17 de out. de 2012

Gutenberg

Antes do livro, ou antes de Gutenberg -- estávamos na época da oralidade, de onde vieram obras como a Odisséia de Homero -- um poema gigantesco que não foi originalmente escrito, mas composto no séc. 8aC. sobre eventos que podem ter ocorrido no séc. 12aC. e transmitido pela repetição oral por séculos.

Sem uma plataforma industrial para registro das composições os autores tinham que confiar na repetição oral, na recriação coletiva da obra, nos métodos tradicionais, contextuais e instáveis de performance para garantir a sobrevivência de sua história. Este é o espaço anterior ao parêntesis de Gutenberg, chamado de performance na imagem acima.

A plataforma de Gutenberg leva a obra da performance para composição. Este novo espaço, no qual vivemos nos últimos 500 longos anos, preza pelo original e pelo direito autoral, pelo individual, pela estabilidade da obra. Mesmo interpretado, o texto [dentro do parêntesis de Gutenberg] reina indisputado, autônomo. A cópia, aqui, é crime; o plágio, inaceitável. O autor e sua obra reinam, perenes, sobre a plataforma de Gutenberg.

Depois do parêntesis de Gutenberg, tempo que estamos vivendo agora, os novos modos de tratar, receber, perceber e promover informação desarranjam o espaço canônico da composição e nos levam a processos de cópia+mistura+cola [ourip+mix+burn] oferecendo novas e gigantescas possibilidades e, ao mesmo tempo, pondo em risco todo um arranjo cultural, de negócio e poder centrado no autor e sua obra.

A tese de Thomas Pettitt do MIT, quase de uma volta à oralidade ou à performance, diz que estamos saindo do parêntesis para um um espaço onde tomar material emprestado, recombiná-lo, às vezes com material próprio, talvez numa nova forma, é a nova norma. (como feito aqui, adaptando um texto originalmente de autoria de Silvio Meira)

A tecnologia em rede está desconstruindo aspectos do livro, como permanência e estabilidade. O texto vai continuar mas vai ficar mais livre à medida em que fica móvel. Desta maneira, estaremos reproduzindo a fluidez da palavra falada nos textos modernos.

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