15 de ago. de 2009

Verdade

Para a certeza o desconhecido é irrelevante. Para a verdade, o desconhecido é justamente o que importa.

Quando é que você crê numa verdade? Toda a verdade eu só acredito por que inicialmente ela é uma verdade de outro. Eu acredito na verdade através do outro. O outro que acredita é que me disse. E essa estrutura de crença não é abalada pela minha dúvida particular.

As crenças religiosas são assim. A dúvida sempre paira sobre qualquer religioso, mas a crença na verdade espiritual se sustenta por que há um outro que crê. Isso foi fundamental no cristianismo, onde houve um primeiro que deu prova de crer.

O serviço da crença é depositar no outro uma última instância nessa possibilidade de crer, e nesse sentido é preciso entender que até mesmo algum sofrimento maior já terá sido pago por esses “outros”, e eu posso sofrer apenas parcialmente.

Quando Descartes ousou trocar a verdade pela certeza científica, propondo que acreditássemos apenas naquilo que pudesse ser provado, provocou uma troca no modo de crer pois passamos a acreditar em tudo sozinhos, a sofrer tudo sozinhos.

Isso quer dizer que trazer a certeza do mundo das medidas para a nosso mundo pessoal trás uma sobrecarga imensa, ao nos desumanizar tentando nos definir de maneira exaustiva, sem margens de manobra.

Precisamos sempre de espaço para nos redefinir. E a certeza científica não nos dá isso. Esse é um serviço da verdade.

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