
O principal afeto do humano é o medo. Afinal, não fabricamos veneno, não conseguimos voar, não conseguimos morder um bicho vivo, temos um tamanho desengonçado, não enxergamos bem , não ouvimos bem: tudo que temos é pensar. E pensar é o nosso grande barato: essa capacidade de observar o meio ambiente e tomar consciência disso é que nos permite ver lá adiante que não vai dar certo...
Entretanto, continuamos a viver: comemos, viajamos, namoramos, não paramos a vida por causa disso. Quem paralisa, com pânico, é porque está com falhas em sua estrutura de proteção, está deixando aparecer esse medo embutido e profundo de existir. No ser normal estão presentes inconscientemente o temor da morte e o esquecimento consciente disso.
Isso tudo nos leva para a verdadeira condição humana, que é a de um náufrago. Você só cresce e vira gente quando toma consciência de que você já perdeu. Enquanto não se tem essa consciência não se está de fato aqui. Um náufrago não está morto, mas ele está jogado no mundo e não sabe bem onde e nem como sair disso.
O naufrágio é uma profunda experiência de gozo de estar vivo, mas que o tempo todo está sendo erodido, frustrado e que exige cada vez mais esforço de negação disso. Mas é o que somos.
É difícil pensar. Mais comum é sedar a consciência, invejar o que parece estar bem: fazer a comunhão com a natureza, com os animais, com a casinha no campo.
Descobrir que o universo não foi feito para ser o nosso berço é uma experiência profundamente humana: só um louco não tem medo.
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