30 de ago. de 2008

Discursos


Existem dois tipos fundamentais de discurso: diálogo e discussão.

Na discussão, o assunto de interesse comum pode ser analisado e dissecado sob os diferentes pontos de vista daqueles que dele participam. Este é um fator positivo, mas normalmente o objetivo do jogo é vencer, o que neste caso significa fazer com que sua idéia seja aceita pelo grupo.

No diálogo, o grupo analisa questões complexas sob diferentes pontos de vista, comunicando suas idéias livremente. O resultado é uma análise livre que traz à tona a experiência e o modo de pensar das pessoas, sem precisar se ater a nenhuma opinião individual.

No aprendizado em grupo, a discussão é a contraparte necessária do diálogo.

Numa discussão, diferentes idéias são apresentadas e defendidas, o que pode resultar numa boa análise da situação como um todo.
No diálogo, diferentes idéias são apresentadas como um meio para se chegar a uma nova idéia.

Na discussão, decisões são tomadas.
No diálogo, questões complexas são analisadas.

Quando um grupo precisa chegar a um acordo e tomar algumas decisões, é necessário que haja discussão - idéias alternativas são avaliadas e a de maior preferência é selecionada (que pode ser uma das alternativas iniciais ou uma nova idéia que emergiu da discussão). Quando produtiva, a discussão converge para uma conclusão ou um curso de ação.

Por outro lado, o diálogo é divergente; ele não busca o acordo, mas um controle maior das questões complexas.

Uma boa equipe sabe se movimentar entre o diálogo e a discussão, passando de um para outro sempre que necessário. As regras do jogo são diferentes. Os objetivos são diferentes. Não sabendo distingui-los, não se tem diálogo nem discussões produtivas. (Senge)

24 de ago. de 2008

Vida Religiosa


O que será a forma elementar da vida religiosa?

O religioso não é o sobrenatural, pois o sobrenatural não existe onde já se tenha estabelecido uma ordem natural das coisas, como adveio das ciências positivas.

O religioso não é a divindade, na forma de um espírito misterioso que domina o mundo. Pois há muito de religioso em crenças não ligadas a divindades: o exemplo mais conhecido é o budismo.

O que sabemos ao certo é que os fenômenos religiosos estão intimamente ligados a dois conceitos:
-- a crença: na forma de estados de opinião,
-- aos ritos: na forma de modos de ação.

Nas manifestações de crença religiosa, o que se tem de único e invariável em todos os tempos é a heterogeneidade absoluta entre duas facetas: sobre o que é sagrado e o que é profano. Pode-se dizer que há um abismo entre ambos, onde ao profano é sempre proibido aproximar-se ou tocar no sagrado. Algo que transite entre ambos deverá fazê-lo por um complicado ritual de passagem, que lhe dê uma característica transcendente.

Essencialmente podemos pensar na religião como um conjunto de crenças e ritos, com o sagrado separado do profano, e reunidos numa comunidade moral chamada igreja. Observe que praticamente todos os movimentos religiosos partiram dessa definição.

9 de ago. de 2008

Fora do Lugar


Pensou na vida e voltou a pensar que era muito belo afundar. Que faltava muito pouco para não ser absolutamente ninguém e não ser nada; ser um pobre velho que afundava era sem dúvida a coisa mais fantástica!

Era perfeito saber que logo não seria ninguém na vida; de fato, há muito tempo tinha deixado de lutar por ela. Que sentimento mais agradável, poder dispensar todos aqueles movimentos obscenos que os jovens realizam quando, na saída do colégio e da adolescência, começam a pipocar as espinhas da cara e a se impor a obrigação de encontrar um lugar na vida!

Que maravilha olhar no espelho e ver a figura de um velho de boa aparência, empenhado em deixar que as coisas lhe chegassem e depois fossem embora desprovidas de sentido, diferente do que acontecia com os pobres jovens, sempre aflitos por se integrar à sociedade.

Além do mais, pensava Mayol, só o velho é um verdadeiro homem, porque está fora de lugar. Que absurdo pensar que um homem deve ocupar um lugar na vida, que absurdo, e no entanto muitos jovens acreditam que devem lutar para conseguir um espaço no mundo, espaço este que não existe porque todos os homens estão fora de lugar, mas só o velho tem consciência e por isso pode sentir-se feliz ao ficar fora do mundo, afundando cada dia mais no seu atraente abismo próprio. (Enrique Vila-Matas)

2 de ago. de 2008

A História do Navio que afundou: Vasa

No ano de 1628, o rei Gustavus Adolphus II desejou fazer da Suécia uma superpotência potência naval. Ele encomendou um novo navio de guerra, o Vasa, que superasse todos os outros navios já construídos, em tamanho e tecnologia.

Antes de completar o projeto, o Rei ordenou que a quilha já fosse construída. E durante a construção, o rei ordenou que o navio fosse feito ainda mais longo...

O dono do projeto temia o rei, e deixou a mudança seguir em frente. Ao longo do tempo, o projetista adoeceu e morreu, e a construção ficou na mão do seu assistente, ainda mais temeroso ao rei. O projeto poderia ainda ter sido um sucesso, exceto por uma ordem final do rei: ele quis mais um deck de canhões na frente do navio.

O resultado foi um navio extremamente elaborado e complexo, porém muito longo e pesado para sua base de flutuação. O projeto teve foco em características avançadas ao invés de se preocupar com a estabilidade da plataforma.

Depois de um teste de estabilidade desastroso, todos os outros testes foram cancelados e o navio foi declarado pronto, sem que nenhum oficial comunicasse a falha para o Rei, ansioso de lançar o navio para ajudar em sua guerra da época contra a Polônia.

Minutos depois de lançado, ainda no porto de Estocolmo, o navio rolou e afundou, matando sua tripulação.

Infelizmente, como ainda acontece nos dias de hoje, gestores tecnicamente muito bons são intimidados e sobrepujados por questões políticas e afundam com seus projetos ambiciosos e sem alma.