9 de ago. de 2008

Fora do Lugar


Pensou na vida e voltou a pensar que era muito belo afundar. Que faltava muito pouco para não ser absolutamente ninguém e não ser nada; ser um pobre velho que afundava era sem dúvida a coisa mais fantástica!

Era perfeito saber que logo não seria ninguém na vida; de fato, há muito tempo tinha deixado de lutar por ela. Que sentimento mais agradável, poder dispensar todos aqueles movimentos obscenos que os jovens realizam quando, na saída do colégio e da adolescência, começam a pipocar as espinhas da cara e a se impor a obrigação de encontrar um lugar na vida!

Que maravilha olhar no espelho e ver a figura de um velho de boa aparência, empenhado em deixar que as coisas lhe chegassem e depois fossem embora desprovidas de sentido, diferente do que acontecia com os pobres jovens, sempre aflitos por se integrar à sociedade.

Além do mais, pensava Mayol, só o velho é um verdadeiro homem, porque está fora de lugar. Que absurdo pensar que um homem deve ocupar um lugar na vida, que absurdo, e no entanto muitos jovens acreditam que devem lutar para conseguir um espaço no mundo, espaço este que não existe porque todos os homens estão fora de lugar, mas só o velho tem consciência e por isso pode sentir-se feliz ao ficar fora do mundo, afundando cada dia mais no seu atraente abismo próprio. (Enrique Vila-Matas)

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