
Há dois impulsos fundamentais na natureza, representados na Grécia Antiga pelas figuras de Apolo e Dionísio.
Apolo representa o lado luminoso da existência o impulso para gerar as formas puras, a majestade dos traços, a precisão das linhas e limites, a nobreza das figuras. Ele é o deus do princípio de individuação, da sobriedade, da temperança, da justa medida, o deus do sonho e das belas visões.
Dionísio, por sua vez, simboliza o fundo tenebroso, a desmedida, a destruição de toda figura determinada e a transgressão de todos os limites, o êxtase da embriaguez. Apolo é o patrono das artes figurativas, Dionísio é o deus da música.
A tragédia grega é a síntese dessas forças: nela se conciliam, por um lado, a força cega e inexorável do destino, que a tudo destrói, e por outro a intensidade máxima do que resiste ao destino. Tudo o que nasce, mesmo o que há de mais grandioso - tem de perecer, para que o ciclo da vida se perpetue. Sem destruição não há criação; sem trevas, não há luz; sem barbárie e crueldade, não há beleza nem cultura.
A tragédia grega é a síntese dessas forças: nela se conciliam, por um lado, a força cega e inexorável do destino, que a tudo destrói, e por outro a intensidade máxima do que resiste ao destino. Tudo o que nasce, mesmo o que há de mais grandioso - tem de perecer, para que o ciclo da vida se perpetue. Sem destruição não há criação; sem trevas, não há luz; sem barbárie e crueldade, não há beleza nem cultura.
Reconhecer os dois lados como importantes é algo muito diferente do que a nossa cultura ocidental faz ao tentar privilegiar o bom e incriminar e esconder o mau.
Para poder viver, o homem teórico busca então refúgio na mesma fé ilusória que está na raiz da ciência moderna, isto é, ele se nutre no otimismo que está na base da racionalidade dialética: a crença na onipotência do logos científico.
O tipo de homem teórico acredita ser possível, mediante o princípio de causalidade, desvendar os segredos mais abissais da realidade - não somente conhecê-los, como também corrigi-los. O otimismo teórico considera a ciência um remédio universal, que cura a ferida eterna do existir, e identifica no erro e na ignorância a fonte de todo mal.
Entretanto, essa mesma cultura se converte em seu contrário, abrindo espaço para um renascimento da ilusão artística, quando o homem teórico admite que nem tudo é acessível à racionalidade lógica. O essencial de nossa existência permanece envolto num mistério impenetrável a qualquer explicação racional.
A confiança nessa onipotência racional acaba mostrando-se apenas uma forma de poderosa ilusão. Mas como experimentar o poder de Dionísio sem ficar petrificado ao vê-lo?
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