19 de set. de 2007

Engano


Você já percebeu que as pessoas tendem a aceitar descrições vagas e genéricas de personalidade como se fossem feitas sob medida para elas? Não percebem que essas descrições poderiam, sem esforço, ser igualmente bem aplicadas a qualquer pessoa? Vamos a um exemplo de descrição:

"... você tem necessidade de ser admirada e respeitada por outras pessoas, mas é muito autocrítica consigo mesma. Embora tenha algumas falhas de personalidade, geralmente consegue compensá-las com outras coisas. Muitas vezes, você fica em dúvida se tomou a decisão correta ou se fez a coisa certa. Mas tem orgulho de ser uma pessoa que pensa com independência e que não aceita argumentos dos outros sem questioná-los. Mas já percebeu que não é sábio ser franca e revelar tudo o que pensa para os outros. Às vezes você se sente extrovertida, amável e sociável, enquanto outras vezes prefere ficar a sós e reservada, com suas aspirações nem sempre realistas.."

Se você se viu neste texto, saiba que milhares de outras pessoas também. A explicação mais comum para isso é que as pessoas tendem a aceitar declarações mais facilmente na proporção do desejo que elas tem que aquilo seja verdade, em detrimento de outras declarações mais certas e isentas. É possível até que as pessoas fabriquem interpretações próprias e convenientes de forma a validar tudo que escutam de agradável para elas.

Como seres da esperança e da incerteza, invocamos poderosos mecanismos psicológicos para tentar dar sentido a montes de informação desconexa que recebemos diariamente e acabamos por encontrar sentido razoável em coisas absolutamente sem sentido. Ou seja, preenchemos os brancos e montamos um quadro coerente com o que ouvimos e vemos, mesmo que uma observação cuidadosa mostre que os dados são vagos, confusos e obscuros. E uma vez estabelecidas as crenças, outro efeito chamado "profecia auto-realizável" faz com que passemos a considerar daí prá frente somente as coisas que confirmem a crença e desprezamos novas informações que sejam contra a posição assumida. Este mecanismo de perpetuação consolida o erro original e constrói uma super-confiança difícil de remover.

A existência desta tendência das pessoas acharem que um conjunto de declarações são precisas e feitas sob encomendas para elas, quando na verdade são genéricas (chamado de efeito Forer) é a base para a sobrevivência de muitas práticas como cartomancia, grafologia e etc, onde profissionais habilidosos procuram pistas nas próprias pessoas para tornar suas declarações, embora genéricas, altamente convincentes. De certa forma, o cliente acaba falando o que deseja ouvir, e depois nem reconhece que fez isso.

São mais suscetíveis ao efeito Forer as pessoas autoritárias, com necessidade de aprovação externa e com baixa auto-estima. Dessa forma, preste atenção quando alguém tentar convencê-lo de alguma coisa usando esta técnica. É mais comum do que se pensa.

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