
Conheço tantos casais que têm amantes que resolvi escrever sobre isso. A definição mais tradicional de amantes é que são pessoas vivendo relações triangulares em situações de proibição. Apesar de fortes sentimentos envolvidos, muitas vezes (ainda na maioria) a situação não acaba bem para o amante, que termina sozinho.
Antigamente achava-se que o impedimento para o término do casamento era de natureza externa, seja por causa dos filhos, diferença social, raça, credo e até pelo respeito ao casamento tradicional. O parceiro casado dizia-se impedido, por forças maiores, a abandonar o lar e a esposa.
Entretanto, os divórcios são muito mais fáceis hoje e os impedimentos externos menos importantes para todos e entretanto ainda há um grande número de amantes apaixonados que terminam separados – talvez sugerindo que o impedimento, na verdade, sempre foi predominantemente de natureza interna.
Seria então o suposto impedimento externo, na verdade, uma porta de saída? Por que as paixões frequentemente aparecem em situações de proibição? Até que ponto o medo de perder alimenta a paixão?
Para avançar aqui faz-se necessário distinguir, da forma como muitas literaturas já o fizeram, uma importante diferença entre sexo e amor. Embora ambos possam coexistir (e é ótimo que assim o seja), o sexo é de fato mais um estímulo erógeno positivo, do tipo que tira você do equilíbrio para uma situação de excitação. Entretanto o amor, e aqui é a parte mais difícil de aceitar, pode ser imaginado como um prazer negativo, ou seja, algo do qual nos beneficiamos por estarmos numa situação inicial desfavorável. Essa situação inicial tem a ver com um sentimento comum a todos de incompletude, de solidão, de falta primordial do outro desde a separação dramática no nascimento. Desta forma, o amor nada mais seria que uma gostosa sensação de aconchego, paz e completude que sentimos junto ao ser amado (é, dormir conchinha de pernas entrelaçadas...). Todo o glamour e luzes piscando realmente é mais do domínio da paixão do que do amor romântico.
Desde crianças vivemos o desafio de desgrudar da mãe (ser indivíduo) e voltar a ela (ser amado). Desta forma, podemos já vislumbrar na vida adulta essa mesma disputa entre queremos estar completos, juntos com alguém e querermos preservar nossa individualidade. Esse antagonismo essencial entre a individualidade e o amor é o eixo de nosso discurso agora. Se considerarmos que há medo da perda da individualidade e que há um certo medo da perda do outro e do sofrimento associado então pode-se começar a imaginar uma trama oculta e frequente que age silenciosamente dentro de nós. Muitas vezes buscamos parceiros que ao mesmo tempo tem qualidades que nos atraem, mas também tem defeitos que vão atuar como porta de saída para não grudarmos demais e perdermos nossa individualidade. Sim, disse defeitos, não porque todos os têm, mas porque precisamos deles no outro. Se o outro os eliminasse, criaria uma situação até perigosa, sem portas de saída... Ou seja, muito encaixe = muito medo, a ponto de poder implicar numa separação!
Isso trás uma hipótese constrangedora: apesar de todo o discurso em busca da felicidade, nós talvez não consigamos suportá-la realmente e nos afastemos dela quando ela fica muito próxima de nós. Quem já não ouviu as três batidinhas na madeira quando tudo vai muito bem? Quem já não percebeu que precisa dar aquela batidinha no carro zero na primeira semana de uso para conseguir usá-lo em paz?
E aqui voltamos a pensar na paixão, aquela coisa que soma medo ao amor. Aquela coisa que é talvez o único devaneio socialmente aceito e elogiado, que atrai as pessoas de uma forma insuportável por períodos mais longos. Mas que nem sempre consegue manter unidos os amantes, quebrar as amarras, e vencer o nosso medo da felicidade.
Antigamente achava-se que o impedimento para o término do casamento era de natureza externa, seja por causa dos filhos, diferença social, raça, credo e até pelo respeito ao casamento tradicional. O parceiro casado dizia-se impedido, por forças maiores, a abandonar o lar e a esposa.
Entretanto, os divórcios são muito mais fáceis hoje e os impedimentos externos menos importantes para todos e entretanto ainda há um grande número de amantes apaixonados que terminam separados – talvez sugerindo que o impedimento, na verdade, sempre foi predominantemente de natureza interna.
Seria então o suposto impedimento externo, na verdade, uma porta de saída? Por que as paixões frequentemente aparecem em situações de proibição? Até que ponto o medo de perder alimenta a paixão?
Para avançar aqui faz-se necessário distinguir, da forma como muitas literaturas já o fizeram, uma importante diferença entre sexo e amor. Embora ambos possam coexistir (e é ótimo que assim o seja), o sexo é de fato mais um estímulo erógeno positivo, do tipo que tira você do equilíbrio para uma situação de excitação. Entretanto o amor, e aqui é a parte mais difícil de aceitar, pode ser imaginado como um prazer negativo, ou seja, algo do qual nos beneficiamos por estarmos numa situação inicial desfavorável. Essa situação inicial tem a ver com um sentimento comum a todos de incompletude, de solidão, de falta primordial do outro desde a separação dramática no nascimento. Desta forma, o amor nada mais seria que uma gostosa sensação de aconchego, paz e completude que sentimos junto ao ser amado (é, dormir conchinha de pernas entrelaçadas...). Todo o glamour e luzes piscando realmente é mais do domínio da paixão do que do amor romântico.
Desde crianças vivemos o desafio de desgrudar da mãe (ser indivíduo) e voltar a ela (ser amado). Desta forma, podemos já vislumbrar na vida adulta essa mesma disputa entre queremos estar completos, juntos com alguém e querermos preservar nossa individualidade. Esse antagonismo essencial entre a individualidade e o amor é o eixo de nosso discurso agora. Se considerarmos que há medo da perda da individualidade e que há um certo medo da perda do outro e do sofrimento associado então pode-se começar a imaginar uma trama oculta e frequente que age silenciosamente dentro de nós. Muitas vezes buscamos parceiros que ao mesmo tempo tem qualidades que nos atraem, mas também tem defeitos que vão atuar como porta de saída para não grudarmos demais e perdermos nossa individualidade. Sim, disse defeitos, não porque todos os têm, mas porque precisamos deles no outro. Se o outro os eliminasse, criaria uma situação até perigosa, sem portas de saída... Ou seja, muito encaixe = muito medo, a ponto de poder implicar numa separação!
Isso trás uma hipótese constrangedora: apesar de todo o discurso em busca da felicidade, nós talvez não consigamos suportá-la realmente e nos afastemos dela quando ela fica muito próxima de nós. Quem já não ouviu as três batidinhas na madeira quando tudo vai muito bem? Quem já não percebeu que precisa dar aquela batidinha no carro zero na primeira semana de uso para conseguir usá-lo em paz?
E aqui voltamos a pensar na paixão, aquela coisa que soma medo ao amor. Aquela coisa que é talvez o único devaneio socialmente aceito e elogiado, que atrai as pessoas de uma forma insuportável por períodos mais longos. Mas que nem sempre consegue manter unidos os amantes, quebrar as amarras, e vencer o nosso medo da felicidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário