20 de ago. de 2007

Compensações



Somos seres do aprendizado e das compensações. Animais têm basicamente comportamentos instintivos, que em alguns casos podem ser modelados por adestramento.

Esse condicionamento operante procura reforçar o comportamento desejado através de compensações positivas, como dar algum alimento ao final do ato. De todo modo, os animais descarregam suas intenções em ações imediatas e não se preocupam muito com frustrações, sequer se lembram depois do que aconteceu. Mas as compensações que queremos tratar aqui são de outro tipo.

Nós, como seres do raciocínio e do social e capazes de guardar lembranças, estamos submetidos a normas sociais reguladoras. A vida em grupo nos ensinou a reprimir instintos indesejáveis ao grupo. Somos ensinados a fazer isso para não acabarmos a sós. Começamos assim a aprender o que é frustração de desejos desde cedo.

A vida continua e ao longo do tempo aparece outro desafio: percebemos que temos de balancear a frustração de não ter coisas imediatas versus investir em benefícios futuros maiores abrindo mão do imediato. É a clássica escolha entre viver suas horas livres versus empenhar seu tempo para estudar. O que é melhor?
Alguns, por imaturidade ou por tipo psicológico, são basicamente incapazes de se auto impor frustração, só admitem o prazer imediato. Outros, incapazes de ceder aos prazeres do imediato afundam-se em compromissos cujos resultados, se vierem, só serão percebidos muito a longo prazo.

Mas, quando ambas as opções são desejáveis, efeitos colaterais aparecem. Um deles é a ansiedade e angústia resultantes do período de indecisão, entre uma coisa e outra. É quando suspiramos. A angústia só passa mesmo quando tomamos uma decisão, e daí podemos sentir alguma frustração por ter aberto mão de uma das opções. Será que escolhemos corretamente?

Para nos ajudar nesse momento, há um efeito conjunto que aparece: passamos a buscar alguma compensação simultânea. Porque não existem escolhas só com ganhos, a compensação sempre aparece para fazer um ajustamento. Se a compensação positiva é grande após a escolha, nem sentimos a frustração por termos aberto mão da outra boa opção. Entretanto, se a compensação não for suficiente, vamos atrás de mais compensação. Isso em parte pode explicar as compulsões por comer, sexo, trabalho etc. Neste sentido, essas compulsões nada mais são que tentativas desesperadas de buscar compensação por perdas percebidas com escolhas anteriores insatisfatórias.

Como fugir dessa armadilha? Basicamente, um papel do amadurecimento pessoal é melhorar nossa capacidade de lidar com a frustração sem a necessidade de tantas compensações. É sentir-se naturalmente mais seguro e confiante e menos dependente do que os outros acham. Fique atento para suas compulsões por compensação. Às vezes elas são estimuladas por pessoas que querem um alto desempenho e envolvimento da sua parte em coisas que são do interesse delas. Usam o mecanismo de provocar frustração como forma de disparar suas compulsões. Cuidado.

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