Depois de muitos anos assistindo a filmes, lendo romances, ouvindo lendas antigas, não dá aquela impressão de que as histórias se repetem? Bom, não são exatamente as histórias que se repetem, mas os roteiros que estão por detrás delas. Christopher Booker decifrou os principais roteiros usados pela história Ocidental, e embora tenha recebido muitas críticas, no geral a proposta é interessante. Os roteiros são:
1-Superando o monstro: O herói é chamado para enfrentar e superar uma terrível e mortal personificação do mal, como em Star Wars e James Bond. Ao fazer isso, ele trás de volta a ordem ao mundo que foi ameaçado pela presença monstruosa.
2-Da pobreza a nobreza: Algum jovem e desconhecido herói de origem humilde é eventualmente elevado a um estado de grande esplendor e felicidade, através de um caminho cheio de obstáculos, como em Cinderela e Jane Eyre
3-O desafio: O herói oprimido é atraído para algum desafio num lugar distante. Há algumas pequenas aventuras que são resolvidas ao longo do caminho, mas a história só se completa quando o herói alcança seu objetivo e vive feliz daí em diante. Exemplos deste tipo de roteiro foram vistos em Senhor dos Anéis (The Hobbit) e o Mágico de Oz
4-Viagem e Retorno: O herói é abruptamente transportado para fora de seu mundo ordinário para um mundo excepcional, enfrenta dificuldades e eventualmente volta para seu lugar de origem acumulando algum aprendizado, como em Alice no País da Maravilhas e as Viagens de Gulliver
5-Comédia: Não significa exatamente uma história engraçada, mas uma onde os personagens no final conseguem o que querem. A chave da comédia é a transição entre dois estados: no primeiro, que persiste ao longo de quase toda a história, nada parece ser claro e as pessoas têm identidades obscuras e incertas; na segunda parte, tudo se esclarece. É quando alguma figura do mal é desmascarada e tudo fica claro. Exemplo: Quatro casamentos e um funeral.
6-Tragédia: Este é o roteiro onde o herói não consegue o que quer e acaba destruído, como em Romeu e Julieta e a Pintura de Dorian Gray
7-Renascimento: Numa versão mais leve da tragédia, aqui o herói cai sob a sombra de algum vilão e quase chega a morrer, quando alguma outra figura aparece e salva a situação. Em geral a figura salvadora é alguma cara-metade do herói ou uma criança. Exemplo: Bela Adormecida e Branca de Neve e os Sete Anões.
Histórias mais complexas podem usar combinações dos roteiros acima. Há ainda um tipo especial de roteiro: Mistério, quando se revela o olhar de um detetive sobre algum dos tipos de história acima.
18 de jul. de 2013
17 de jul. de 2013
Chapéu e traição
Romântico não significa uma coisa inventada, artificial, sem semelhança com a vida. Porque é assim mesmo que é composta a vida humana. Ela é composta como uma partitura musical. O ser humano, guiado pelo sentido da beleza, transpõe o acontecimento fortuito (uma música de Beethoven, a morte numa estação) para fazer disso um tema que, em seguida, fará parte da partitura de sua vida. Voltará ao tema, repetindo-o, modificando-o, desenvolvendo-o e transpondo-o, como faz um compositor com os temas de sua sonata.
Isso ele o faz ao longo da vida, amadurecendo sua partitura a ponto de torná-la muitas vezes incompreensível a quem chega depois. Enquanto as pessoas são ainda mais ou menos jovens e a partitura de suas vidas está somente nos primeiros compassos, elas podem fazer juntas a composição e trocar os temas, mas quando se encontram numa idade mais madura, suas partituras musicais estão mais ou menos terminadas, e cada palavra, cada objeto, significa algo de diferente na partitura do outro.
Por isso, quando ela colocou só o chapéu, senti-me constrangido como se ela estivesse falando comigo numa língua desconhecida. Não achava o gesto obsceno, nem tampouco sentimental; era somente um gesto incompreensível e desconcertante pela falta de significado. Aprendi ali que passaria por isso ainda muitas vezes na vida que me restava e que não podia mais achar que isso era traição.
(Kundera, adapted)
Isso ele o faz ao longo da vida, amadurecendo sua partitura a ponto de torná-la muitas vezes incompreensível a quem chega depois. Enquanto as pessoas são ainda mais ou menos jovens e a partitura de suas vidas está somente nos primeiros compassos, elas podem fazer juntas a composição e trocar os temas, mas quando se encontram numa idade mais madura, suas partituras musicais estão mais ou menos terminadas, e cada palavra, cada objeto, significa algo de diferente na partitura do outro.
Por isso, quando ela colocou só o chapéu, senti-me constrangido como se ela estivesse falando comigo numa língua desconhecida. Não achava o gesto obsceno, nem tampouco sentimental; era somente um gesto incompreensível e desconcertante pela falta de significado. Aprendi ali que passaria por isso ainda muitas vezes na vida que me restava e que não podia mais achar que isso era traição.
(Kundera, adapted)
13 de jul. de 2013
Lição de Édipo Rei
Quando Édipo percebeu que havia matado seu pai sem saber ... matou seu pai sem saber ... e que estava dormindo com sua mãe ... e, por causa de seus crimes, pragas estavam devastando a cidade dele ... ele não pôde suportar a visão do que havia feito.
Ele arrancou os olhos e deixou a cidade. Ele não se sentiu inocente. Sentiu que deveria se punir. Mas, nossos líderes, ao contrário de Édipo ... sentiram que eram inocentes.
E quando atrocidades foram reveladas ...eles disseram: "Nós não sabíamos! Não sabíamos o que acontecia. Nossa consciência está limpa."
Mas a diferença ...a diferença importante é que ... eles continuaram no poder. Inocentes ou desavisados? Sim, a moralidade mudou desde a época de Édipo. (Kundera)
Assinar:
Postagens (Atom)