16 de nov. de 2012

A benção beneditina


O primeiro esforço para constituir uma mecanização desvinculada da forma antiga de massificação humana, feita pelos impérios desde as pirâmides até as construções romanas, veio com o cristianismo.

Pela primeira vez, foram adicionados valores morais e finalidade social ao trabalho, que transcenderam as soluções existentes baseadas na escravidão e no castigo de grandes contingentes humanos submetidos a profecias divinas ou a organizações militares. 

O lugar onde se viu mais claramente esta mudança foi com os cistercienses, depois chamados de beneditinos, que passaram a voluntariar um pequeno número de homens para dedicar-se aos monastérios, isso em torno do século VI. Esses homens estavam se retirando da confusão da civilização então decadente de grandes centros urbanos como Roma e Alexandria e estabelecendo um novo modo de vida dedicado à salvação de suas almas -- através de pequenas comunidades organizadas para atividades diárias com uma regularidade de performance e previsibilidade até então desconhecidas.

Entre as obrigações estavam as de rezar, obedecer aos superiores, aceitar a pobreza e vigiar a conduta dos outros segunda as rígidas regras do monastério. Dessa forma, foram se formando as bases do que até hoje seguimos em nossas atividades regradas e hierárquicas. Contrariamente ao que mostrou Max Weber, foi muito antes do Calvinismo que se formaram as bases do trabalho responsável como valor moral. Os beneditinos de fato criaram as bases para o trabalho regulado pelo tempo, até hoje simbolizado pela batidas dos sinos de relógios cristãos. 

Os trabalhos no monastérios eram variados e intercalados com períodos de descanso e meditação. Acredita-se que a mecanização de tarefas rotineiras com o auxílio de máquinas como moinhos tenha surgido aqui como forma de liberar esforço dos monges para as atividades mentais e religiosas que de outra forma seriam impossíveis ao trabalhador esgotado de outrora.

Embora rígida, a disciplina trazia seus benefícios: os monges tinham tratamento médico garantido, boa alimentação e assistência na velhice. Em troca, os monastérios foram importantes centros de desenvolvimento da cultura: trabalho, estudo e preces andavam juntos -- na busca de eficiência e perfeição que se tornariam base para o desenvolvimento do capitalismo.

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