
A supressão do raciocínio crítico geralmente começa cedo. Uma menina de cinco anos de idade, por exemplo, pode reconhecer a insinceridade da mãe, seja percebendo sutilmente que, embora esta esteja sempre falando de amor e amizade, é na realidade fria e egoísta, ou de forma mais rude ao notar que a mãe está tendo uma aventura com outro homem ao mesmo tempo que está constantemente salientando seus elevados padrões morais.
A filha percebe a discrepância. Sente-se ferida em seu senso de justiça e verdade, mas, dependendo da mãe que não admitirá qualquer embate, e, digamos, tendo um pai fraco em quem não pode confiar, vê-se obrigada a suprimir sua percepção crítica.
Bem depressa ela não mais notará a insinceridade ou infidelidade da mãe. Perderá sua capacidade de raciocinar criticamente, pôsto que lhe parecerá ao mesmo tempo inútil e perigoso continuar fazendo-o.
Por outro lado, a criança fica impressionada com o padrão de ter de acreditar que a mãe é sincera e decente e que o casamento de seus pais é feliz, e prontamente aceitar esta idéia como se fosse sua.
Poderíamos seguir citando muitos mais casos da vida diária em que as pessoas aparentam tomar decisões, aparentam querer algo, mas na verdade seguem a pressão interna ou externa de "ter de" querer aquilo que vão fazer.
Em verdade, ao observar o fenômeno das decisões humanas fica-se chocado pelo grau em que as pessoas se enganam ao considerar como decisão "delas" o que é, com efeito, uma submissão a convenções, ao dever ou a uma simples coação.
Chega quase a parecer que a decisão "original" é um fenômeno relativamente raro em uma sociedade que se imagina fazer da decisão individual a pedra angular de sua existência.
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