
Encontravam-se agora jazendo nas covas rasas da areia, após abandonar o palácio que construíram no momento da descoberta da imortalidade: "desses lamentáveis buracos (...)emergiam homens barbudos e macilentos, de pele acinzentada e nus. (...) Não me espantou que eles não conseguissem falar e que devorassem serpentes."
Ser imortal é coisa comum. Com exceção do homem, todas as criaturas são imortais, pois ignoram a morte. O que é divino, incompreensível, é saber que se é imortal. Tudo, dentre os mortais, tem o valor do irrecuperável e do perigoso. Dentre os Imortais, de outro lado, todo ato é o eco de outros que o precederam no passado, sem nenhum início visível. Nada pode acontecer apenas uma vez, nada é preciosamente precário.
Se a morte algum dia fosse derrotada, não haveria mais sentido em todas aquelas coisas que laboriosamente juntamos, a fim de injetar algum propósito nesta vida absurdamente breve. A cultura humana que conhecemos - as artes, a política, a intricada teia de relações humanas, ciência ou tecnologia - foi concebida no ponto do trágico, mas fatal, encontro entre o período finito da existência física humana e a infinitude da vida espiritual.
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