23 de mai. de 2009

Imortalidade (Who wants to live forever?)

Cidade dos Imortais, de Jorge Luis Borges. Essa deve ter sido uma cidade não de quaisquer imortais, mas daqueles imortais que primeiro passaram pela experiência de ser mortal, aprenderam as habilidades que refletiam tal experiência e então, certo tempo depois, alcançaram a imortalidade. Deve ter sido chocante a descoberta de que tudo aprendido antes se tornou subitamente inútil e destituído de significado.

Encontravam-se agora jazendo nas covas rasas da areia, após abandonar o palácio que construíram no momento da descoberta da imortalidade: "desses lamentáveis buracos (...)emergiam homens barbudos e macilentos, de pele acinzentada e nus. (...) Não me espantou que eles não conseguissem falar e que devorassem serpentes."

Ser imortal é coisa comum. Com exceção do homem, todas as criaturas são imortais, pois ignoram a morte. O que é divino, incompreensível, é saber que se é imortal. Tudo, dentre os mortais, tem o valor do irrecuperável e do perigoso. Dentre os Imortais, de outro lado, todo ato é o eco de outros que o precederam no passado, sem nenhum início visível. Nada pode acontecer apenas uma vez, nada é preciosamente precário.

Se a morte algum dia fosse derrotada, não haveria mais sentido em todas aquelas coisas que laboriosamente juntamos, a fim de injetar algum propósito nesta vida absurdamente breve. A cultura humana que conhecemos - as artes, a política, a intricada teia de relações humanas, ciência ou tecnologia - foi concebida no ponto do trágico, mas fatal, encontro entre o período finito da existência física humana e a infinitude da vida espiritual.

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