22 de mar. de 2009

Culpado


Um modo de surgimento do sentimento de culpa é a transformação do ressentido em culpado realizada pelo padre ascético.

O ressentido é alguém que nem age e nem reage realmente. O desgosto, a impotência em se vingar, a inveja, o envenenamento de todos os sentidos: eis para o homem esgotado o modo mais nocivo de reagir. Ao criar um inimigo que considera malvado e imaginando uma vingança contra seus valores, o que o ressentido faz é dar sentido a sua falta de força: o outro é sempre responsável do que ele não pode, do que ele não é.

O papel do padre é descarregar, aliviar seu rebanho do ressentimento acumulado que ele considera um explosivo capaz de destruir tanto um quanto o outro. Como se dá esse alívio descompressor?

O ressentido é alguém que sofre e porque sofre procura espontaneamente uma causa - um culpado - de seu sofrimento para sobre ele descarregar seu ódio, "distrair a dor pela paixão". Esse culpado, o padre lhe oferece: é ele mesmo, o ressentido. "Alguém deve ser culpado de que eu me sinta mal!", diz o ressentido, ignorando a causa de seu sofrimento; o padre lhe responde: "Tem razão, minha ovelha, alguém deve ser culpado, mas esse alguém é você mesmo; é você mesmo e apenas você que é culpado de você!"
Sua culpa, sua culpa, sua culpa! dizia incessantemente o ressentido; minha culpa, minha culpa, minha máxima culpa! dirá agora o culpado.

É o padre que muda a direção do ressentimento. A má-consciência é o ressentimento voltado contra si próprio. Nasce assim, segundo essa "psicologia do padre", o Pecado.

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