24 de fev. de 2009

Desempenho


Como premiar o desempenho em nossa sociedade, descendente de uma lógica ibérica onde o ócio foi associado a um melhor status e o trabalho ao baixo escalão escravo?

Mesmo nas corporações, que visam lucro e são fortemente influenciadas pelo sistema americano de meritocracia, avaliações de desempenho são vistas mais como mecanismos burocráticos do que como formas de legitimar o desempenho individual. Afinal, há algo mais importante do que preservar a integridade do grupo e manter a competição sob limites? Até que ponto o grupo encobre suas falhas para preservar sua fidelidade intrínseca ao social? Somos mesmos guiados por experiência e boas relações?

O fato é que entre nós partimos do pressu­posto de que as diferenças de habilidade e talento entre os indivíduos são resultado de suas diferentes posições sociais. Isto é, as desigualda­des naturais são interpretadas como fruto de variáveis históricas e so­ciais sobre as quais os indivíduos têm pouca ou nenhuma ingerência. Ou, caso elas sejam consideradas intrínsecas ao indivíduo, não são sufi­cientementes fortes para superar as diferenças sociais.

Logicamente, os resultados positivos e negativos oriundos dos diferentes desempenhos não pertencem aos indivíduos, e sim à so­ciedade como um todo. Daí a lógica distributiva que está na concep­ção de igualdade expressa na síndrome de isonomia, tão comum nos cargos públicos.

Por conseguinte, as hierarquias construídas com base nas diferenças de desempenho e as recompensas distribuidas aos melhores tem pouca legitimidade. Torna-se difícil avaliar objetivamente o desempenho porque nunca se considera a existência de igualdade de oportunidades devido à desigualdade inicial de posição social. Os indivíduos são percebidos como sujeitos reativos e que resistem ou sobrevivem às condições sociais que lhes são impostas: competição é vista como mecanismo social negativo e desagregador.
O desempenho não é avaliado, mas justificado.

A corrreção disso seria empurrar o eixo da responsabilidade pelos resultados individuais, hoje centrado nas condições históricas e sociais em direção ao eixo individual. Isso destina-se a diminuir uma ética de reclamações e acusações mútuas pela qual não existem sujeitos responsáveis pelos universos em que vivem. Uma vez que as pessoas não se sentem responsáveis por seus resultados, e todos se vêem determinados por condições históricas, não existem sujeitos históricos responsáveis, a não ser anônimos macroprocessos sociais.

Aumentar o custo individual ao deixar de salvaguardar a auto-estima, partindo-se para uma disputa mais aberta entre os indivíduos pode ser o caminho para diminuir o custo social para os que estão presos na base da pirâmide.

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