7 de jun. de 2008

Doutrina do Poder


Ao fazer o bem e o mal aos outros exercitamos o nosso poder sobre eles - é, nesse caso, o que queremos!

Fazemos mal a quem devemos fazer sentir nosso poder, pois o sofrimento é um meio muito mais sensível, para esse fim, do que o prazer: o sofrimento procura sempre a sua causa enquanto o prazer mostra inclinação para se bastar a si próprio e a não olhar para trás.

Ao fazer bem ou ao desejarmos o bem exercemos o nosso poder sobre aqueles que, de alguma forma, já estão na nossa dependência (quer dizer que se habituaram a pensar em nós como suas causas); queremos aumentar o seu poder porque assim aumentamos o nosso, ou queremos mostrar-lhes a vantagem que há em estar em nosso poder; com isso ficarão mais satisfeitos com a sua situação e mais hostis aos inimigos do nosso poder, mais prontos a combatê-los.

Fazermos sacrifícios para fazer o bem ou o mal não altera em nada o valor definitivo das nossas ações; mesmo se arriscarmos a nossa vida, como o mártir pela sua causa, é um sacrifício que fazemos à nossa necessidade de poder, ou com a finalidade de conservar o nosso sentimento de poder.

Indubitavelmente, é raro que o estado que acompanha o gesto de fazer mal seja tão agradável como aquele que acompanha o gesto de fazer bem; trata-se de um sinal que revela que ainda nos falta poder ou que revela o nosso desgosto diante desta pobreza, anunciando novos perigos e novas incertezas para o nosso capital de poder, mantendo o nosso horizonte velado por perspectivas de vingança, escárnio, punição, malogro.

Somente para os mais ávidos do sentimento de poder pode haver algum prazer em imprimir ao recalcitrante o selo do seu domínio; para aqueles que só vêem nisso aborrecimento, é um desprazer o espetáculo de um ser já submetido (tornado objeto de benevolência).

Trata-se de saber como o homem acostumou-se a temperar sua vida; é sempre uma questão de gosto: quer que o crescimento de poder seja lento ou brusco, seguro ou perigoso? Procura-se esta ou aquela forma conforme a inclinação do nosso temperamento.

Uma presa fácil, para as naturezas orgulhosas, é algo de desprezível; só experimentam um sentimento de bem-estar diante de homens íntegros que poderiam tornar-se seus inimigos, e diante de todas as posses seriam dificilmente acessíveis; são muitas vezes duros, para aquele que sofre, porque não o julgam digno do seu esforço e da sua altivez, mas mostram-se tanto mais corteses para com os seus semelhantes com os quais a luta seria certamente honrosa, se aparecesse ocasião para isso.

Foi sob o efeito do sentimento de bem-estar que os homens fortes se acostumaram a usar uns para com os outros de uma delicadeza requintada. A piedade é o sentimento mais agradável para aqueles que são pouco orgulhoso e que não têm possibilidades de fazer grandes conquistas: a presa fácil – e qualquer ser sofredor é presa fácil – é coisa que os encanta. Louva-se a piedade como sendo a virtude dos fracos de vida alegre.

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