13 de abr. de 2008

Mesa cheia, ilusão de fartura?


A fome muitas vezes alterou o rumo da humanidade, provocando êxodos e guerras. A luta contra a fome nem sempre é vitoriosa, pois há uma tradição milenar na má distribuição dos alimentos pelo mundo.

Na Idade Média, o pecado da gula era algo concreto e não havia esnobismo na escolha do que comer. A idéia da frugalidade alimentar imperava. Estar à mesa era uma alegria e saber administrar o uso e consumo dos alimentos, escassos para a não-nobreza, era uma tarefa importantíssima da dona de casa medieval. Queijo, ovos e carne eram muito caros e restritos, e a dieta medieval camponesa era baseada no pão, vinho e sopa.

Na Idade Moderna o europeu descobre o café, o chocolate, o açúcar. Os legumes e as verduras saem da mesa do camponês e vão para a mesa dos ricos. As grandes navegações trazem novidades do além-mar e a mesa começa a ficar mais farta.
O milho, o tomate, a batata, o chá, o açúcar, o chocolate viajam para a Europa. A imprensa começa a produzir tratados culinários que circulam pelas pessoas, ensinando-as a cozinhar melhor. O açúcar começa a ser misturado às frutas, que passaram do início das refeições para o final delas, na forma de compotas e geléias nas sobremesas. O chocolate, inicialmente consumido com pimenta entre os Astecas, começa a ser adoçado e adotado pela nobreza européia.

Comer bem entrou na moda a partir do século XVII. A gula deixou de ser pecado, e o bom gosto à mesa impõe-se como forma de ser chique. Alcachofras e aspargos passam a ser visto como novidades, e as carnes ganham importância. O que antes era ligado aos camponeses, que tinham estômago rústico para suportar alimentos básicos, agora entra no cardápio mais sofisticado que pede um preparo especial com cozimento e molhos sofisticados. Nosso churrasco, baseado em carne com pouco preparo, era tida como alimento de pobres, assim como carne de porco com grãos.

O consumo de café, que explode no século XIX como uma bebida que se opõe ao álcool, foi muita bem aceita no meio industrial. O chá, que se torna a bebida de público feminino com seus bules e xícaras trabalhadas, distingue-se do café – que torna-se uma bebida masculina que melhora a produtividade.

Uma novidade desta época é a sala de jantar, com seus serviços e pratos. Os talheres são dessa época, e os modos à mesa vão-se sofisticando. O bom gosto agora não é só aplicável às artes plásticas e à música, mas também à mesa. Surgem os primeiros restaurantes, como locais que serviam “caldos restauradores” – logo transformados em locais de encontros públicos em torno da comida.

A partir do século XIX, surge uma indústria alimentar e os fast-foods consolidam-se como verdadeiras linhas de montagem. O trabalho feminino migra de casa para o emprego e agora as pessoas com mais recursos vão em busca de gourmets e receitas específicas de diferentes países. A alimentação vira símbolo de status, juntamente com a abundância do alimento industrializado e vazio em nutrientes. Entram em competição a alimentação controlada por dietas, e o dia-a-dia de alimentos pouco saudáveis.

E temos vivendo no mesmo mundo pessoas absolutamente sem ter o que comer com pessoas obesas e mal alimentadas, inundadas de informação e conservantes.

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