16 de mar. de 2008

Seleção e comportamento


Quanto do comportamento humano é determinado por outros mecanismos além da escolha intencional? Quanto do comportamento pode ser melhor explicado pelas restrições e oportunidades do que pelos desejos do agente? Será que conseguimos explicar melhor a vida assumindo que há um leque de variações gerando opções de ação que serão selecionados por meios racionais e não-racionais?

Para pensar nesse assunto, comecemos por assumir que tanto a seleção como a variação do comportamento a ser selecionado podem ser intencionais ou não-intencionais. Vamos estudar as possíveis combinações.

Primeiro caso: Variação e seleção não-intencionais
A seleção natural obviamente modelou a estrutura física do ser humano, através da seleção de variações não-intencionais. Mas explicar o comportamento através do mecanismo de seleção natural é ir além disso. É propor que a evolução produziu emoções com suas respectivas tendências de ação. Um bom exemplo é que o homem nunca pode estar certo sobre a paternidade, enquanto que a mulher certamente sabe que ela é a mãe dos seus filhos. Por causa disso, pode-se esperar um homem mais ciumento que a mulher, como de fato é provado pelo maior número relativo de homicídios cometidos por homens por causa de ciúmes. A seleção natural também pode favorecer a ausência de emoção. Os perigos de uma relação sexual entre parentes diretos é mantida sob controle pela falta de atração entre jovens que crescem juntos, independente de serem cosanguíneos ou não.

Segundo caso: Variação e seleção intencional
Este mecanismo parece menos importante para explicar o comportamento. Ele é tipicamente usado com plantas, onde variações são intencionalmente provocadas com resultados intencionalmente selecionados.

Terceiro caso: Variação não-intencional e seleção intencional
Há muitos casos de novos organismos ou mecanismos surgindo por acidente e sendo então aceitos ou rejeitados com base numa escolha racional. Onde a seleção natural tende a produzir um igual número de homens e mulheres, o infanticídio ou aborto de crianças do sexo feminino na China causa um déficit de mulheres que adultera esse equilíbrio. Outro exemplo interessante ocorre nos trabalhos artesanais e nas artes cênicas: um ator de teatro, ao ser imperfeito e interpretar seu papel diferentemente a cada espetáculo, abre caminho para variações que podem ser depois conscientemente selecionadas levando ao aprimoramento da peça. Esses “erros de replicação” aleatórios são a base da teoria da evolução, cabendo analisar em cada caso a origem dessas variações. Embora Darwin tenha confessado desconhecer a origem das variações, hoje sabemos que são, de fato, erros de replicação genética que possibilitam variações úteis nas espécies. Uma replicação perfeita negaria este caminho de evolução.

Quarto caso: Variação intencional e seleção não-intencional
A economia de mercado compartilha algumas características com o processo de seleção natural. Com a premissa de que a racionalidade humana é cheia de limitações, firmas e seus gerentes são ineficientes no sentido de que são falhos em tomar decisões de produção e comercialização que vão com certeza maximizar os lucros. Entretanto, mecanismos de mercado vão eliminar as firmas ineficientes, de forma que num dado momento as firmas presentes serão percebidas como eficientes, como se a causa fosse a existência de gerentes eficientes. Não foi isso. Na verdade, tiveram sorte de praticar estratégias que foram selecionadas.
Numa versão mais simples, firmas estão constantemente tentando aumentar seus lucros através de processo de imitação ou inovação. Embora a simples imitação não gere novas entradas para seleção, a imitação imperfeita pode fazer isso. Inovação também é, por definição, fonte de variação. Então, através desses mecanismos técnicas mais eficientes vão se espalhar até que um máximo local seja atingido.
Outra versão menos nobre, mas bastante comum é a tradução do ditado “se está funcionando, não mexa”, ou “o melhor dos monopólios é aquele que trás vida tranquila”. Nestes casos, admite-se que as firmas buscam níveis satisfatórios de lucros, e não necessariamente os máximos lucros. Desta forma, o que as leva a agir é a queda de lucros abaixo do satisfatório, seja por mudanças de mercado ou ferrugem na organização. Estando combalida, é menos provável que a firma tenha fôlego para investir em inovação e resta-lhe então o processo de tentar imitar quem está se dando bem, com maior ou menor direção. Fatalmente algumas vão se recuperar, parando de buscar ao voltar ao nível satisfatório de lucro, e outras vão falir.

Estas questões tornam-se ainda mais relevantes se levarmos em conta que a seleção natural pressupõe um ambiente relativamente estável. Mas, o ambiente empresarial muda muito rapidamente, de forma que antecipar mudanças passa a ser muito crítico nestes casos. A menos que a empresa seja grande o bastante para modelar as mudanças.

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