2 de mar. de 2008

Consequências não-intencionais

As coisas nem sempre saem como desejamos que saiam. Muitos eventos ocorrem não-intencionalmente. A História é o resultado da ação humana, não do desígnio humano. Adam Smith referiu-se a uma mão invisível que molda os assuntos humanos. Marx falou sobre a alienação das pessoas em relação à própria ação. Por um lado há a idéia de ações individuais interferindo uma com a outra para produzir um resultado. Por outro lado pode haver um ajustamento mútuo permitindo que todos os planos sejam desenvolvidos sem distorção.

Como a ação pode interferir nos desejos e oportunidades de alguém, alguns fenômenos interessantes ocorrem. Quem é levado pelo desejo imediato de uma oferta pode acabar trocando de objeto sucessivas vezes, e embora em cada uma delas pareça estar fazendo um bom negócio, ao longo do tempo pode-se acabar pior do que quando se começou. Isso é típico de quem troca muito de carro. O primeiro gole pode aumentar o desejo de outros goles e também diminuir a minha saúde e as oportunidades de derivar prazer de outras atividades que exijam ter equilíbrio, por exemplo.



Pensando em consequências não intencionais num grupo, todos podem ser levados a fazer algo que deixa todos em pior ou melhor situação do que quando se começou. Se para ver o palco alguns se levantam, então todos têm que se levantar para ver e todos acabam pior. Se um mercado aquecido e com bons preços faz com que todos produzam em excesso, logo todos acabam pior. No outro extremo, uma firma que introduz uma nova tecnologia motivada por seus lucros maiores acaba beneficiando a todos com produtos melhores e mais baratos.

Às vezes, o efeito individual de cada externalidade soma-se ao de outras ocorrências, com um efeito devastador. Na China tradicional, muitas famílias pobres praticavam o infanticídio de meninas. O resultado foi um excesso de meninos e um número substancial de jovens solteiros para serem recrutados pelo banditismo. As vítimas dos bandidos eram principalmente as pessoas prósperas, que não praticavam o infanticídio. A exploração dos ricos sobre os pobres gerou um contra peso à exploração.

Um enigma que surge nesse ponto é se consequências não-intencionais que apareçam repetidas vezes podem modelar o comportamento, seja por seleção, seja por reforço.
Uma criança que chora por sorvete e acaba ganhando a atenção dos pais, pode voltar a fazer isso por mais sorvete e fica satisfeita com a atenção. Uma dança da chuva dos primitivos pode não trazer chuva, mas trás coesão e solidariedade. Embora possa se pensar que o conflito é ruim para uma organização, a alternativa de não tê-lo pode ser pior, se a tensão acumular-se até que toda a máquina exploda. Então a função do conflito pode ser manter a organização em boa forma, e essa consequência não-intencional pode ser a razão de conflitos serem perenes entre nós, ao invés de uma racionalidade qualquer.

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