8 de dez. de 2007

Relacionamento Social


Sabe-se que crianças privadas de contato físico por muito tempo tendem a enfraquecer, e podem até morrer em consequência desse enfraquecimento. Um fenômeno correlato é visto em adultos submetidos à privação sensorial. Tal privação pode dar origem a distúrbios mentais (temporários), e constitui-se num dos castigos mais temidos, mesmo por prisioneiros endurecidos pela brutalidade física.

A preocupação aqui é sobre o que acontece depois que a criança é separada de sua mãe, no decurso do crescimento. O indivíduo vai se defrontar, o resto da vida, com um dilema diante do qual seu destino e sua sobrevivência estarão continuamente em jogo. Um dos aspectos desse dilema é representado pelas forças sociais, psicológicas e biológicas que se interpõem à continuação da intimidade física no estilo infantil. O outro, pela sua perpétua luta para consegui-la de volta. Na maioria das vezes será necessário obter uma posição intermediária.

Ele aprenderá a se satisfazer com formas de contato físico mais sutis e mesmo simbólicas. Até mesmo um simples aceno de reconhecimento poderá servir de alguma forma a este propósito. Contudo, o anseio de receber de volta o contato físico vai permanecer inalterado. A fome infantil de estímulo transforma-se em algo denominado “anseio de reconhecimento”. À medida que as complexidades da vida aumentam, é este anseio de reconhecimento que faz com que as pessoas vão se tornando diferentes umas das outras. São essas diferenças que emprestam variedade ao relacionamento social e determinam o destino de cada indivíduo. Um ator de cinema pode precisar de centenas de estímulos enquanto que um cientista pode precisar de apenas um por ano, de um renomado mestre. Entenda-se aqui estímulo como qualquer ato que implique no reconhecimento da presença de outra pessoa. E sempre a existência de qualquer relacionamento social representa uma vantagem sobre a ausência de relacionamento.

O próximo ponto fundamental é o eterno problema do ser humano, de como estruturar suas horas de vigília. Neste sentido, a função de toda vida social é emprestar assistência mútua a esse projeto. O aspecto operacional da estruturação do tempo é chamado de programação, e pode ser de três tipos: material, social e individual.
O método mais comum e conveniente é uma estruturação material conhecida como “trabalho” ou atividade, como ter um emprego ou construir um barco, onde sabemos que haverá transações e reconhecimentos.

A programação social é principalmente constituída de rituais, tais como “boas maneiras” e práticas diplomáticas e regradas de relacionamento. Outra forma de programação social envolveria menos ritual e mais divertimento: são os passatempos sociais, como brincadeiras, piadas, beber etc.

À medida em que as pessoas se conhecem melhor, mais programação individual surge e os incidentes começam a ocorrer. Eles podem parecer casuais, mas um observador cuidadoso sabe que eles seguem um padrão e são suscetíveis de classificação, e que sua sequência é regulada por regras estritas, embora não escritas ou ditas. Estas regras manifestam-se mais fortemente quando alguém as infringe, dando origem a um grito simbólico. Essas sequências de incidentes, baseados em programação individual, podem ser chamadas de jogos da vida. Há diversas situações emblemáticas em nossos relacionamentos em família, com amigos etc. que de fato seguem um padrão, mostrando que a característica essencial do procedimento humano é que as emoções não se exprimem ao acaso, e na verdade são muito bem reguladas.

Passatempos e jogos constituem na verdade um mero substituto do ato de viver a verdadeira intimidade. Por este motivo podem ser consideradas mais escaramuças do que uniões reais e significativas. A intimidade se inicia quando a programação individual (geralmente instintiva) se torna mais importante. A verdadeira intimidade é a única resposta completamente satisfatória aos anseios de estímulo, reconhecimento e estruturação do tempo. Seu protótipo é o ato de fecundar com amor.

Enfim, a necessidade de estruturação do tempo tem o mesmo valor para a sobrevivência que a necessidade de estímulo. O indivíduo solitário pode estruturar o tempo de duas maneiras: através da atividade e através da fantasia. Pode-se, naturalmente, permanecer solitário mesmo na presença de outros. Quando se integra a um conjunto social, há outras opções de estruturar o tempo:
1- Rituais, como um almoço de Natal
2- Passatempos, como festas
3- Jogos, como batalhas de palavras
4- Intimidade, como a sexual
5- Atividades em Grupo, em geral
Com isso, o objetivo de cada membro desse conjunto será obter tantas vantagens quanto possível de suas transações com os outros.

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