
Uma frase de um, a origem no outro.
“... nos deram espelho, e vimos um mundo doente
Tentei chorar mas não consegui”
R Russo
“ ... O homem selvagem, quando acabou de comer, está em paz com toda a natureza, e é amigo de todos os seus semelhantes. Se, algumas vezes, tem de disputar seu alimento, não chega nunca ao extremo sem ter antes comparado a dificuldade de vencer com a de encontrar em outro lugar sua subsistência; e, como o orgulho não se mistura ao combate, ele termina por alguns socos.
O vencedor come, o vencido vai procurar fortuna em outra parte, e tudo está pacificado. Mas, no homem da sociedade, é tudo bem diferente; trata-se, primeiramente, de prover ao necessário, depois, ao supérfluo. Em seguida, vêm as delícias, depois as imensas riquezas, e depois súditos e escravos. Não há um momento de descanso. O que há de mais original é que, quanto menos as necessidades são naturais e prementes, tanto mais as paixões aumentam, e o que é pior, o poder de as satisfazer.
De sorte que, após longas prosperidades, depois de haver devorado muitos tesouros e desolado muitos homens, meu herói acabará por tudo arruinar, até que seja o único senhor do universo. Tal é, abreviadamente, o quadro moral, senão da vida humana, pelo menos das pretensões secretas do coração de todo homem civilizado.”
JJ Rousseau, ano de 1755
Algumas coisas não nos ensinam na escola, nem na Internet. Na época das navegações portuguesas que nos encontraram, o Vaticano dispunha na sua bula Inter Coetera, de 4 de Maio de 1493 a seguinte norma: “... por nossa mera liberalidade, e em razão da plenitude do poder Apostólico, todas as ilhas e terras firmes achadas e por achar ... A Vós e a vossos herdeiros e sucessores (reis de Castela e Leão) pela autoridade do Deus onipotente a nós concedida em São Pedro, assim como do vicariado de Jesus Cristo, vô-la doamos, concedemos e entregamos com todos os seus domínios, cidades, fortalezas, lugares, vilas, direitos, jurisdições e todas as pertenças. E a vós ... fazemos senhores das mesmas, com pleno, livre e onímodo poder, autoridade e jurisdição ... sujeitar-se a vós os moradores e habitantes delas, e reduzi-los à Fé Católica ... “. Essa é ainda uma lei vigente do direito latifundiário à terra que foi uma vez outorgada.
Aqui chegando e tomando posse, o colonizador utilizou-se fartamente da instituição social indígena do cunhadismo, onde um europeu casava-se simultaneamente com diversas índias e tornava-se parente de uma multidão local que podia por a seu serviço. Inicialmente comprados com bugigangas (espelhos... e ferramentas) depois caçados e escravizados, esse contingente indígena, que foi genocidado ao longo do tempo (há cálculos que falam em 4 milhões exterminados), essas indígenas que cruzaram com o europeu, formaram a base real do Brasil. Depois reforçados com o negro africano, trazido para cá para ser utilizado como carvão humano nos engenhos de açucar, formaram uma mão de obra escravizada e subjugada ao extremo, num retrato dos mais completos sobre a crueldade a que homens podem atingir. Entender nosso país passa necessariamente por entender o latifúncio, a casa grande, o escravo e a monocultura que existiu para tornar-nos um proletáriado externo dos europeus. Isso ao longo de séculos, indo do açucar para o ouro e para o café, existimos não para ser algo aqui, mas ser produtor para um senhor externo, sob um patronato e um patriciado colonial dominante e fulminante. Desde essa época, implantou-se um sistema de classes sociais predominante sobre a etnia dos europeus, negros, índios e seus descendentes de forma que a separação aqui foi, e ainda é, essencialmente por condição econômica e menos por raça ou cor.
Apesar de todo o desenvolvimento e progresso que a civilização trouxe, vale a pena refletir, de vez em quando, o quanto aqueles homens índios originais despojados de ambição e vivendo em comunidades indiferenciadas podiam transitar e viver livres e felizes em seu habitat florestal, algo que nós definitivamente nunca mais conseguiremos experimentar.
“... nos deram espelho, e vimos um mundo doente
Tentei chorar mas não consegui”
R Russo
“ ... O homem selvagem, quando acabou de comer, está em paz com toda a natureza, e é amigo de todos os seus semelhantes. Se, algumas vezes, tem de disputar seu alimento, não chega nunca ao extremo sem ter antes comparado a dificuldade de vencer com a de encontrar em outro lugar sua subsistência; e, como o orgulho não se mistura ao combate, ele termina por alguns socos.
O vencedor come, o vencido vai procurar fortuna em outra parte, e tudo está pacificado. Mas, no homem da sociedade, é tudo bem diferente; trata-se, primeiramente, de prover ao necessário, depois, ao supérfluo. Em seguida, vêm as delícias, depois as imensas riquezas, e depois súditos e escravos. Não há um momento de descanso. O que há de mais original é que, quanto menos as necessidades são naturais e prementes, tanto mais as paixões aumentam, e o que é pior, o poder de as satisfazer.
De sorte que, após longas prosperidades, depois de haver devorado muitos tesouros e desolado muitos homens, meu herói acabará por tudo arruinar, até que seja o único senhor do universo. Tal é, abreviadamente, o quadro moral, senão da vida humana, pelo menos das pretensões secretas do coração de todo homem civilizado.”
JJ Rousseau, ano de 1755
Algumas coisas não nos ensinam na escola, nem na Internet. Na época das navegações portuguesas que nos encontraram, o Vaticano dispunha na sua bula Inter Coetera, de 4 de Maio de 1493 a seguinte norma: “... por nossa mera liberalidade, e em razão da plenitude do poder Apostólico, todas as ilhas e terras firmes achadas e por achar ... A Vós e a vossos herdeiros e sucessores (reis de Castela e Leão) pela autoridade do Deus onipotente a nós concedida em São Pedro, assim como do vicariado de Jesus Cristo, vô-la doamos, concedemos e entregamos com todos os seus domínios, cidades, fortalezas, lugares, vilas, direitos, jurisdições e todas as pertenças. E a vós ... fazemos senhores das mesmas, com pleno, livre e onímodo poder, autoridade e jurisdição ... sujeitar-se a vós os moradores e habitantes delas, e reduzi-los à Fé Católica ... “. Essa é ainda uma lei vigente do direito latifundiário à terra que foi uma vez outorgada.
Aqui chegando e tomando posse, o colonizador utilizou-se fartamente da instituição social indígena do cunhadismo, onde um europeu casava-se simultaneamente com diversas índias e tornava-se parente de uma multidão local que podia por a seu serviço. Inicialmente comprados com bugigangas (espelhos... e ferramentas) depois caçados e escravizados, esse contingente indígena, que foi genocidado ao longo do tempo (há cálculos que falam em 4 milhões exterminados), essas indígenas que cruzaram com o europeu, formaram a base real do Brasil. Depois reforçados com o negro africano, trazido para cá para ser utilizado como carvão humano nos engenhos de açucar, formaram uma mão de obra escravizada e subjugada ao extremo, num retrato dos mais completos sobre a crueldade a que homens podem atingir. Entender nosso país passa necessariamente por entender o latifúncio, a casa grande, o escravo e a monocultura que existiu para tornar-nos um proletáriado externo dos europeus. Isso ao longo de séculos, indo do açucar para o ouro e para o café, existimos não para ser algo aqui, mas ser produtor para um senhor externo, sob um patronato e um patriciado colonial dominante e fulminante. Desde essa época, implantou-se um sistema de classes sociais predominante sobre a etnia dos europeus, negros, índios e seus descendentes de forma que a separação aqui foi, e ainda é, essencialmente por condição econômica e menos por raça ou cor.
Apesar de todo o desenvolvimento e progresso que a civilização trouxe, vale a pena refletir, de vez em quando, o quanto aqueles homens índios originais despojados de ambição e vivendo em comunidades indiferenciadas podiam transitar e viver livres e felizes em seu habitat florestal, algo que nós definitivamente nunca mais conseguiremos experimentar.
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