
Hoje sou mais a favor de uma união e da experiência do casamento do que já fui antes. Mas quando olhamos em torno percebemos que algo não vai bem, que algo está em transição. O casamento está em transição e o sentimento no qual ele se baseia também.
Estamos prestes a falar do amor. Então vamos enfrentar contradições e turbulências. O amor é um bem maior que se busca e ninguém é contra ele, mas o amor moderno não vem cumprindo o que promete. Está frequentemente provocando quebras de juras eternas e levando os casais a buscar relacionamentos extra-conjugais ou em série, desfazendo e construindo sucessivamente novas relações. O que estaria acontecendo?
A primeira coisa notável num casamento é a quantidade de coisas que não se pode fazer, como não poder comer o que se quer, não poder se mostrar mais experto que o outro, não poder pedir auxílio de alguém de fora se o parceiro considera-se capaz de resolver o problema (mesmo que não o resolva) e por aí vai. Daí nos dizem que isso é assim mesmo, que somos diferentes e temos que aceitar isso. Mas será que a chave para a solução disso é o se esforçar para tolerar o outro?
Parte do problema é que o amor tornou-se, na vida moderna, algo imensamente importante para nosso ego e a possibilidade de perder esse amor tornou-se tremendamente traumática, principalmente se isso ocorre pela simples escolha do outro (sendo neste aspecto talvez mais traumática que a separação inevitável pela morte do parceiro). Com isso, muita ansiedade acompanha o amor moderno, e para tentar diminuir isso uma das formas é tentar controlar o outro, torná-lo previsível através de uma série de regras e proibições.
Entretanto, surpreendentemente, há outras conexões políticas e sociais envolvidas. As incríveis disparidades sociais sempre exigiram um nível de controle social (embora nem sempre explícito), e de alguma forma a população tem aceitado isso. O fato de que para conseguir ter o amor do outro nós aceitemos a regra de que temos de nos submeter, com algum esforço, a esse tipo de micropoliciamento da relação, na verdade, nos prepara mentalmente para aceitar também esse policiamento que o Estado nos impõe, com uma diversidade enorme de proibições.
A primeira coisa notável num casamento é a quantidade de coisas que não se pode fazer, como não poder comer o que se quer, não poder se mostrar mais experto que o outro, não poder pedir auxílio de alguém de fora se o parceiro considera-se capaz de resolver o problema (mesmo que não o resolva) e por aí vai. Daí nos dizem que isso é assim mesmo, que somos diferentes e temos que aceitar isso. Mas será que a chave para a solução disso é o se esforçar para tolerar o outro?
Parte do problema é que o amor tornou-se, na vida moderna, algo imensamente importante para nosso ego e a possibilidade de perder esse amor tornou-se tremendamente traumática, principalmente se isso ocorre pela simples escolha do outro (sendo neste aspecto talvez mais traumática que a separação inevitável pela morte do parceiro). Com isso, muita ansiedade acompanha o amor moderno, e para tentar diminuir isso uma das formas é tentar controlar o outro, torná-lo previsível através de uma série de regras e proibições.
Entretanto, surpreendentemente, há outras conexões políticas e sociais envolvidas. As incríveis disparidades sociais sempre exigiram um nível de controle social (embora nem sempre explícito), e de alguma forma a população tem aceitado isso. O fato de que para conseguir ter o amor do outro nós aceitemos a regra de que temos de nos submeter, com algum esforço, a esse tipo de micropoliciamento da relação, na verdade, nos prepara mentalmente para aceitar também esse policiamento que o Estado nos impõe, com uma diversidade enorme de proibições.
E isso é antigo: há registros de que na época de Henry Ford, os trabalhadores eram estimulados e recebiam prêmios se resolvessem se casar, já que era notório que os casados eram mais facilmente “domesticados” para o trabalho repetitivo nas linhas de montagem. Por aqui pode-se imaginar porque o Estado e a igreja sempre foram tão entusiastas do casamento. É porque ele é ótimo para manter a repressão de todos. A palavra que a criança mais ouve na vida é “não”, e ela assim se encolhe e perde muito da sua rebeldia. Naturalmente, algum nível de repressão sempre será necessário para a vida em grupo, mas será que não a temos em demasia atualmente, sem se perceber isso?
Quando se lê a história do casamento, sobre o modo como ele se torna uma instituição de controle social, vê-se que no início o casamento era um acordo particular entre duas pessoas, para preservar patrimônio e fazer alianças. Daí, o romantismo quebrou essa regra e deliberou sobre o casamento mais livre, por escolha amorosa e a igreja e depois o Estado aproveitaram para colocar as regras de como deveriam ser as coisas.
O casamento passou então a ser uma das bases sobre as quais o Estado organiza, registra e controla a vida privada dos cidadãos, sem que eles se revoltem.
Outro aspecto crítico é que se por um lado o dilema do casamento único está sendo subvertido por uma série de relacionamentos extra-conjugais, por outro lado ainda há a aceitação geral de que os pais já amorosamente separados devem continuar unidos pelo bem das crianças pequenas, quando de fato sabe-se que a maioria delas melhoram suas neoroses quando os pais briguentos finalmente separam-se.
O fato é que os formatos familiares não acompanharam as mudanças econômicas, como a entrada da mulher na força de trabalho. Naturalmente, essas transições de formato causam algum pânico nas pessoas, mas elas sempre acharam formas criativas de unir-se e separar-se. Entretanto, a frase muito usada “... você precisa trabalhar melhor o seu relacionamento” parece não surtir efeito e pode não ser mesmo o caminho.
Você já observou um casal dando ordens um ao outro? De algum modo, as pessoas parecem não querer ter tanta liberdade quanto seria possível. Há escolhas que podemos fazer em termos de amor, então por quê não escolher as opções de maior liberdade? Seria essa uma propensão humana, para aceitar estruturas sociais com formatos autoritários? Seria isso um formato introjetado pelos pais quando somos ainda crianças, ao termos nossos impulsos mais originais frequentemente aniquilados em nome da ordem social?
Quando se lê a história do casamento, sobre o modo como ele se torna uma instituição de controle social, vê-se que no início o casamento era um acordo particular entre duas pessoas, para preservar patrimônio e fazer alianças. Daí, o romantismo quebrou essa regra e deliberou sobre o casamento mais livre, por escolha amorosa e a igreja e depois o Estado aproveitaram para colocar as regras de como deveriam ser as coisas.
O casamento passou então a ser uma das bases sobre as quais o Estado organiza, registra e controla a vida privada dos cidadãos, sem que eles se revoltem.
Outro aspecto crítico é que se por um lado o dilema do casamento único está sendo subvertido por uma série de relacionamentos extra-conjugais, por outro lado ainda há a aceitação geral de que os pais já amorosamente separados devem continuar unidos pelo bem das crianças pequenas, quando de fato sabe-se que a maioria delas melhoram suas neoroses quando os pais briguentos finalmente separam-se.
O fato é que os formatos familiares não acompanharam as mudanças econômicas, como a entrada da mulher na força de trabalho. Naturalmente, essas transições de formato causam algum pânico nas pessoas, mas elas sempre acharam formas criativas de unir-se e separar-se. Entretanto, a frase muito usada “... você precisa trabalhar melhor o seu relacionamento” parece não surtir efeito e pode não ser mesmo o caminho.
Você já observou um casal dando ordens um ao outro? De algum modo, as pessoas parecem não querer ter tanta liberdade quanto seria possível. Há escolhas que podemos fazer em termos de amor, então por quê não escolher as opções de maior liberdade? Seria essa uma propensão humana, para aceitar estruturas sociais com formatos autoritários? Seria isso um formato introjetado pelos pais quando somos ainda crianças, ao termos nossos impulsos mais originais frequentemente aniquilados em nome da ordem social?
Penso que muito da relação conjugal acaba por reviver essas relações repressivas infantis, e nesse sentido talvez o lar seja mesmo a essência da repressão em todos nós. Essa é uma situação delicada, porque pertence à classe de assuntos que as pessoas reconhecem intimamente mas não querem reconhecer publicamente. Pense num amor maduro e frequentemente você vai ouvir sobre o esforço anunciado para suportarem-se mutuamente e para buscar um cola que grude direito. Mesmo uma relação paralela, que é justificada pela busca de diversão, costuma evoluir para um minicasamento, com regras próprias. O swing de casais, feito também para diversão, onde pode haver ligação sexual mas não amorosa entre os casais opostos, mostra-se também cheio de regras. Esse é um dilema humano: a livre expressão do desejo é ameaçadora para as estruturas e instituições sociais. Dessa forma, o que pensamos ser livre é, na verdade, extremamente regulado e contraditório.
Por quê então a união não pode ser vista mais como uma brincadeira, algo divertido de se viver? Não seria essa a essência do relacionamento que desejamos, sem ter que empenhar grandes esforços? Já que o encantamento amoroso, que podemos chamar de paixão, dura pouco, o que podemos esperar de bom em seguida? Não seria uma fase divertida que só a verdadeira amizade no casal pode dar?