5 de jul. de 2018
Santos contra trapaceiros
30 de abr. de 2017
Rei das águas do Sul: Albatroz Errante
Quando se navega para Antártida é quando se encontra o oceano que tem as maiores ondas, as maiores tempestades, tudo é superlativo. E tem também as maiores belezas, como o Albatroz Errante. (Wandering Albatross)
É uma ave de tal beleza com envergadura de uns 3,40m e que precisa da tempestade porque ela não voa com vento fraco. Ela voa assim, quase toca a superfície e a cava dos precipícios das ondas arrebentando sem se molhar. Então é um animal que se diverte com a desgraça dos navegadores com as grandes tempestades...
E ela olha nos seus olhos, você desesperado no meio de ondas de 15m e o bicho pairado do seu lado com a cabeça sempre reta. Parece que ela tem um pêndulo na cabeça, que está sempre na vertical.
Relato do Amyr Klink numa entrevista pra Mariana Godoy, uma imagem que me apoia quando enfrento tempestades.
16 de jul. de 2016
Ser intro, verso
Não sei se têm em mente a imagem daqueles cometas que voam desintegrando-se.
O núcleo central, muito luminoso, continua correndo, brilhando, ainda parece intacto, mas, na realidade, atrás dele se exibe, por milhares de quilômetros, o ser do cometa, bilhões de partículas desprendidas de seu coração, de sua essência. Um sulco gigantesco fica atrás do miraculoso objeto cósmico, uma explosão de miudezas de todas as dimensões. Não, é uma certeza, nenhum de nossos gestos físicos fica impune.
Ao sair de manhã e ao apanhar o ônibus ou o metrô para o escritório, uma porção de nós fica atrás no trajeto, espalhada sobre os ombros e nas pupilas das centenas de pessoas que se encontram pelo caminho. Uma extraordinária operação de polinização social se dá durante a viagem, minúsculos átomos de sua existência se agarram aos outros seres ou a objetos em movimento, iniciam uma jornada com eles e espraiam-se pelo universo.
Por isso, não se admire se chegar exausto ao escritório, ou se à noite, ao chegar em casa, estiver já morto. Qualquer evasão do casulo protetor da cama ou da casa permite que o mundo exterior nos bique com volúpia, nos devore com ferocidade, nos moa e nos expila em lascas e salpicos, em estilhaços e imagens, em sons e cheiros, para milhares e centenas de milhares de direções.
Por isso, digo a vocês: cuidado com cada movimento!
E, antes de mais, não se abram senão com seres complementares.
(Matéi Visniec)
11 de jan. de 2015
Vire, onde vai dar?
Pense sobre a seguinte frase, veja se você concorda com ela:
"O Estado deve ser não apenas um criador de leis e instituições, mas um educador e provedor de vida espiritual. Deve ter como objetivo reformular não apenas a vida mas o seu conteúdo – o homem, sua personalidade, sua fé.
O Estado deve educar os cidadãos à civilidade, torná-los conscientes de sua missão social, exortá-los à união; deve harmonizar interesses divergentes, transmitir às futuras gerações as conquistas da mente e da ciência, da arte, da lei e da solidariedade humana."
Concorda?
Pois essa é uma frase de "A Doutrina do Fascismo" manual ideológico de Mussolini, de 1932.
Como os liberais, o fascismo admitia o capitalismo, mas, como os socialistas, submetia tudo (os indivíduos, as famílias, os sindicatos, as empresas) aos interesses do Estado.
Esse princípio está no próprio nome do movimento, que vem de fascis, “feixe”, um símbolo que representava os poderes dos magistrados no Império Romano e foi muito usado em escudos e brasões.
Antes de Mussolini comprometer seu significado, o fascis foi usado na Revolução Francesa e nos Estados Unidos. Aparece na Casa Branca, na Suprema Corte, no Memorial de Lincoln e numa estátua de George Washington no estado da Virgínia. Vem do fato de que uma vara pode ser facilmente quebrada, mas um feixe de varas, não. Ou seja, a coletividade é mais forte que o indivíduo.
“Tudo no estado, nada contra o estado, e nada fora do estado” é a sentença lapidar de Mussolini.
Quem mesmo defende um estado grande hoje em dia?
Mussolini lançou ao mundo a moda de criar imensas estatais. Em 1939, o estado fascista controlava mais de quatro quintos da frota mercante e da construção naval da Itália, três quartos da produção de lingotes e quase metade da de aço.
Diversas estatais brasileiras cuja privatização foi tão lamentada pela esquerda nos anos 90, como a Vale do Rio Doce e a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), foram criadas por Getúlio Vargas sob pura influência do ditador italiano.
As leis trabalhistas merecem um parágrafo à parte. Em 1927, Mussolini impôs a Carta del Lavoro, que instituiu na Itália a justiça do trabalho e as normas de adicional para trabalho noturno, descanso semanal e férias anuais. Esse conjunto de leis também é um marco do corporativismo, ou seja, a participação dos cidadãos na política por meio das suas associações profissionais.
A Carta del Lavoro foi copiada por diversos países, como Portugal, Turquia e Brasil. Como é bem conhecido, Getúlio Vargas se inspirou nessa e em outras leis para criar a Constituição de 1937, que instituiu o Estado Novo. Diversos trechos do código brasileiro são pura tradução da carta de Mussolini.
Frase de campanha 2014: "... No evento, Dilma lembrou o legado trabalhista de Getúlio Vargas, citando décimo terceiro salário, férias e FGTS. Dias depois, na sua conta no Twitter, a presidente publicou: “Tem coisas que eu não concordo, como mexer nos direitos do trabalhador e não abro mão nem que a vaca tussa”.
Sim, o fascismo está muito mais próximo da esquerda do que poderíamos imaginar -- e não só dos militares.
25 de dez. de 2014
Esplêndida arte, ligações.
Imprimir forma a uma duração é uma exigência da beleza, mas também é da memória. Pois aquilo que não tem forma é inalcançável, imemorável.
Há um vínculo secreto entre a lentidão e a memória, entre a velocidade e o esquecimento. Imaginemos uma situação das mais comuns: um homem andando na rua. De repente, ele quer se lembrar de alguma coisa, mas a lembrança lhe escapa. Nesse momento, automaticamente, seus passos ficam mais lentos.
Ao contrário, quem está tentando esquecer um incidente penoso que acabou de viver sem querer acelera o passo, como se quisesse rapidamente se afastar daquilo que, no tempo, ainda está muito próximo de si.
Conceber esse encontro como uma forma foi algo muito precioso, visto que essa noite não deveria ter amanhã e só poderia se repetir na lembrança.
21 de dez. de 2014
Lentidão e as chamas do êxtase.
Olho pro meu odômetro e ainda falta um bom trecho pelo rodoanel até chegar em Embu, hora e meia pela frente. Esses rapidinhos de moto, se estiverem indo prá lá, vão chegar em poucos minutos ...
Pensei em como pessoas podem não ter medo da morte se arriscando assim na velocidade e depois serem tão prudentes num assalto, numa briga, numa discussão no trabalho.
Talvez a velocidade máxima faça com que a pessoa só possa se concentrar naquele exato momento, agarrando-se num fragmento do tempo que é arrancado da sua continuidade, do seu passado-futuro. Nesse estado de êxtase, não sabe nada de sua idade, de seus amigos, familiares, preocupações e portanto não tem medo pois o medo tem uma ligação com a preocupação com o futuro e quem se liberta do futuro nada tem a temer.
Ao contrário do motociclista ou do motorista que vai a toda marcha, quem corre a pé ou de bicicleta está sempre presente em seu corpo, forçado a pensar em suas bolhas, cãibras, no seu fôlego. Enquanto vai seguindo sente seu peso, sua idade, consciente mais do que nunca de si mesmo e do tempo de sua vida.
E assim sente-se chegando a novos lugares que se mostram prazeirosamente familiares ao invés dos lugares chegarem rápidos e estranhos, num jet lag.
20 de nov. de 2014
Crimes e Más Ações
Durante toda a nossa vida, enfrentamos decisões penosas...escolhas morais.
Algumas delas têm grande peso. A maioria não tem tanto valor assim.
Mas definimos a nós mesmos pelas escolhas que fizemos.
Na verdade, somos feitos da soma total das nossas escolhas.
Tudo se dá de maneira tão imprevisível... tão injusta...
que a felicidade humana...não parece ter sido incluída no projeto da Criação.
Somos nós, com nossa capacidade de amar...que atribuímos um sentido a um universo indiferente.
Assim mesmo, a maioria de nós... parece ter a habilidade de continuar lutando...e até de encontrar prazer nas coisas simples...
como sua família, seu trabalho...e na esperança que no futuro se alcance uma compreensão maior.
23 de mar. de 2014
Jornalismo, publicidade e credibilidade juntos?
Na prática bastaria ela endossar o produto, segundo seus próprios critérios de moral pessoal e cachê? Pois há aqui, sem dúvida, um conflito de papéis.
O bom jornalismo é indutivo, é narrativo, constrói uma história, uma tese.
O bom jornalismo é argumentativo, busca colocar tijolo sobre tijolo numa linha de raciocínio que seja sólida, que faça sentido, que tenha começo, meio e fim.
O bom jornalismo é retrato, lida com a realidade, tem compromisso com a verdade, quer fatos, busca solidez, vive de ganhar a confiança do leitor com uma moeda de troca chamada "credibilidade".
O bom jornalismo é consequente, quer fazer pensar, faz perguntas pertinentes e procura encontrar respostas duradouras.
O bom jornalismo é um fazer que contextualiza as informações, estimula o senso crítico, na qual e para a qual é preciso ter um razoável senso de responsabilidade e de consequência.
O bom jornalismo é assertivo, objetivo, busca sempre fazer as perguntas certas ou então colocar um ponto final nos assuntos que cobre.
Já a publicidade guarda diferenças importantes em relação ao jornalismo.
Ela é dedutiva: em vez de caminhar da parte para o todo, construindo um contexto, a publicidade monta a sua história vindo do todo para a parte, focando só aquilo que lhe interessa, tomando um detalhe interessante, isolando um ponto bizarro ou engraçado, para logo em seguida expandi-lo desproporcionalmente, sem muita preocupação com o equilíbrio, a isenção, a correção e a "verdade". A verdade em publicidade é diferente da verdade em jornalismo, na medida em que as intenções e as expectativas são distintas.
A publicidade não constrói uma tese – constrói uma síntese.
A publicidade não é retrato – é pintura. E não lida com a realidade, mas com a fantasia. A publicidade precisa ser divertida, não tem qualquer compromisso com fatos, registros históricos ou respostas duradouras.
A publicidade não quer salvar ninguém nem ser edificante – ela prefere desconstruir elementos criativamente.
A publicidade não quer por as coisas em seus devidos lugares – ao contrário, ela busca tirar elementos do seus lugares para surpreender.
A publicidade é epidérmica, porque opera na superfície – ela tem 30 segundos e não 30 minutos; ela tem 5 ou 6 linhas de texto e não 5 ou 6 mil caracteres para fazer o seu ponto.
A publicidade não busca argumentar, construir uma linha de raciocínio. Muitas vezes ela sequer precisa fazer sentido. O que ela precisa é marcar, ser lembrada, se fazer registrar.
A publicidade não é objetiva – ela é baseada na sacada, na piada, na ironia, que são as coisas mais subjetivas do mundo.
A publicidade não busca a isenção. E não requer responsabilidade ou consequência.
O compromisso da linguagem publicitária é com o impacto. Ela tem que fazer rir, chorar, emocionar, surpreender, instigar (o desejo de consumo, especialmente).
A publicidade quer colocar um ponto de exclamação – e não um ponto final – nos temas que aborda.
22 de fev. de 2014
Por onde vou
É o que eu quero num relacionamento...
É meio difícil -
é essa coisa quando você está com alguém...
mas é uma festa... e vocês dois estão conversando com outras pessoas...
e vocês estão rindo e brilhando... e olham pro outro lado da sala...
e se pegam se olhando...mas não porque você é possessiva...
ou que seja precisamente sexual...
mas porque... aquela é a sua pessoa nessa vida.
E é engraçado e triste, mas só porque...
essa vida vai acabar,
e é esse mundo secreto... que existe ali...
em público, despercebido, que ninguém mais sabe.
É meio como eles dizem que existem outras dimensões...
ao nosso redor, mas não temos a habilidade de percebê-las.
É -
É isso que eu quero num relacionamento.
Ou na vida, acho.
Amor.
1 de fev. de 2014
À distância
De repente, o encanto desaparece das suas encostas, da paisagem que nos rodeia e daquela que se estende a nossos pés; esquecemos que grande número de grandezas devem, como grande número de bondades, serem vistas a certa distância, e de baixo, nunca do alto.
É somente assim que fazem efeito. São como pessoas que só podem olhar-se a si próprias a uma certa distância para se julgarem suportáveis, sedutoras e animadoras: o autoconhecimento é uma coisa que não lhes é aconselhável.