Não sei se têm em mente a imagem daqueles cometas que voam desintegrando-se.
O núcleo central, muito luminoso, continua correndo, brilhando, ainda parece intacto, mas, na realidade, atrás dele se exibe, por milhares de quilômetros, o ser do cometa, bilhões de partículas desprendidas de seu coração, de sua essência. Um sulco gigantesco fica atrás do miraculoso objeto cósmico, uma explosão de miudezas de todas as dimensões. Não, é uma certeza, nenhum de nossos gestos físicos fica impune.
Ao sair de manhã e ao apanhar o ônibus ou o metrô para o escritório, uma porção de nós fica atrás no trajeto, espalhada sobre os ombros e nas pupilas das centenas de pessoas que se encontram pelo caminho. Uma extraordinária operação de polinização social se dá durante a viagem, minúsculos átomos de sua existência se agarram aos outros seres ou a objetos em movimento, iniciam uma jornada com eles e espraiam-se pelo universo.
Por isso, não se admire se chegar exausto ao escritório, ou se à noite, ao chegar em casa, estiver já morto. Qualquer evasão do casulo protetor da cama ou da casa permite que o mundo exterior nos bique com volúpia, nos devore com ferocidade, nos moa e nos expila em lascas e salpicos, em estilhaços e imagens, em sons e cheiros, para milhares e centenas de milhares de direções.
Por isso, digo a vocês: cuidado com cada movimento!
E, antes de mais, não se abram senão com seres complementares.
(Matéi Visniec)
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