
Nosso conceito de individualidade tem um significado diferente do conceito norte-americano, que é mais democrático e requer igualdade de condições.
Nós precisamos que o valor intrínseco da pessoa seja reconhecido como caráter distintivo. Por isso enquanto que para o norte-americano a individualidade repousa na igualdade de oportunidades, para nós está arraigado à noção de singularidade baseada na diferença entre indivíduos.
Nossa noção de singularidade mostra suas raízes na alma católica ou no anjo da guarda de Kardec e tornou-se ligada à dignidade da pessoa. Isto significa que alguém guiado pelos próprios valores pode ser mais bem visto que alguém que tolera insultos para se conformar à sociedade.
Nossa singularidade é expressa basicamente no livre arbítrio da pessoa. Desta forma, a paixão é o manto que revela a liberdade de escolha porque ela desafia a racionalidade. Além disso, se a paixão corteja a tragédia, ela coroa a abnegação do indivíduo não dando bola para o utilitarismo. A falta de recompensa na decisão é valorizada, pois revela que a escolha veio do livre-arbítrio divino.
Essas escolhas têm importantes implicações. Um executivo norte-americano desafia abertamente a opinião de outro e isso não ofende. Por aqui a coisa é diferente, porque isso ameaça a dignidade da individualidade, como um toureiro que perde a tourada. Desta forma, é apenas no seu círculo mais íntimo que nos sentimos à vontade porque aí é onde a individualidade não será ameaçada e mesmo uma postura menos ritualizada será aceita sem censura.
Do lado de fora deste círculo é necessário aprender uma elaborada forma de ritual que garanta a individualidade da contraparte. Desde o vendedor que afirma a singularidade de seu cliente através do discurso de "status diferenciado", até as diversas reuniões e confraternizações onde se personalizam as relações.
Essa personalização é o que explica como nós conseguimos tecer uma rede de relacionamentos que suporta nossa tremenda desigualdade de poder e recursos.
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