5 de jul. de 2018

Santos contra trapaceiros

Imaginemos uma sociedade ligeiramente diferente daquela na qual vivemos atualmente: uma sociedade como a dos velhos tempos, na qual a força de trabalho é paga em dinheiro ao fim de cada semana, em pequenos envelopes pardos e personalizados. Agora imagine que dividimos essa força de trabalho em dois tipos de pessoas. O primeiro tipo é honesto e trabalha duro durante a semana inteira. Vamos chamá-los de santos. O segundo tipo é desonesto e preguiçoso e rouba seus diligentes correspondentes enquanto estes caminham para casa na sexta-feira, esperando do lado de fora dos portões da fábrica e se apropriando de seus merecidos salários. Vamos chamá-los de trapaceiros. À primeira vista, pode parecer que os trapaceiros se deram bem: o crime compensa. E, ao menos no curto prazo, compensa mesmo. Os santos batem ponto para manter a comunidade funcionando, enquanto os trapaceiros colhem um duplo benefício: não apenas desfrutam das vantagens de viver em uma sociedade florescente como, ao roubar o salário dos santos, “são pagos” para não fazer nada. Grande negócio, se você puder consegui-lo. Mas veja o que acontece se esse padrão de comportamento se prolonga. Os santos se cansam e ficam doentes. Tendo menos recursos com que se manter, começam a morrer. Gradualmente, a taxa da população “trabalhadora” começa a diminuir em favor da população de trapaceiros. Mas isso, é claro, é exatamente o que os trapaceiros não querem! Com o número de santos diminuindo semanalmente, aumenta a probabilidade de os trapaceiros roubarem entre si. Além disso, ainda que ataquem um santo, há grande possibilidade de saírem sem nada. Outro trapaceiro já pode tê-lo roubado. Se o ciclo seguir seu progresso natural, no fim a balança de poder voltará ao início. O pêndulo oscila novamente em favor dos santos e a sociedade volta a trabalhar para viver. Mas note como a história é programada para se repetir. Os santos estão no comando apenas durante a recessão. E os trapaceiros presidem somente enquanto os santos conseguem mantê-los à tona. É um carrossel sombrio e recorrente de prosperidade e falência. (Sabedoria dos Psicopatas - Kevin Dutton)