Pense sobre a seguinte frase, veja se você concorda com ela:
"O Estado deve ser não apenas um criador de leis e instituições, mas um educador e provedor de vida espiritual. Deve ter como objetivo reformular não apenas a vida mas o seu conteúdo – o homem, sua personalidade, sua fé.
O Estado deve educar os cidadãos à civilidade, torná-los conscientes de sua missão social, exortá-los à união; deve harmonizar interesses divergentes, transmitir às futuras gerações as conquistas da mente e da ciência, da arte, da lei e da solidariedade humana."
Concorda?
Pois essa é uma frase de "A Doutrina do Fascismo" manual ideológico de Mussolini, de 1932.
Como os liberais, o fascismo admitia o capitalismo, mas, como os socialistas, submetia tudo (os indivíduos, as famílias, os sindicatos, as empresas) aos interesses do Estado.
Esse princípio está no próprio nome do movimento, que vem de fascis, “feixe”, um símbolo que representava os poderes dos magistrados no Império Romano e foi muito usado em escudos e brasões.
Antes de Mussolini comprometer seu significado, o fascis foi usado na Revolução Francesa e nos Estados Unidos. Aparece na Casa Branca, na Suprema Corte, no Memorial de Lincoln e numa estátua de George Washington no estado da Virgínia. Vem do fato de que uma vara pode ser facilmente quebrada, mas um feixe de varas, não. Ou seja, a coletividade é mais forte que o indivíduo.
“Tudo no estado, nada contra o estado, e nada fora do estado” é a sentença lapidar de Mussolini.
Quem mesmo defende um estado grande hoje em dia?
Mussolini lançou ao mundo a moda de criar imensas estatais. Em 1939, o estado fascista controlava mais de quatro quintos da frota mercante e da construção naval da Itália, três quartos da produção de lingotes e quase metade da de aço.
Diversas estatais brasileiras cuja privatização foi tão lamentada pela esquerda nos anos 90, como a Vale do Rio Doce e a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), foram criadas por Getúlio Vargas sob pura influência do ditador italiano.
As leis trabalhistas merecem um parágrafo à parte. Em 1927, Mussolini impôs a Carta del Lavoro, que instituiu na Itália a justiça do trabalho e as normas de adicional para trabalho noturno, descanso semanal e férias anuais. Esse conjunto de leis também é um marco do corporativismo, ou seja, a participação dos cidadãos na política por meio das suas associações profissionais.
A Carta del Lavoro foi copiada por diversos países, como Portugal, Turquia e Brasil. Como é bem conhecido, Getúlio Vargas se inspirou nessa e em outras leis para criar a Constituição de 1937, que instituiu o Estado Novo. Diversos trechos do código brasileiro são pura tradução da carta de Mussolini.
Frase de campanha 2014: "... No evento, Dilma lembrou o legado trabalhista de Getúlio Vargas, citando décimo terceiro salário, férias e FGTS. Dias depois, na sua conta no Twitter, a presidente publicou: “Tem coisas que eu não concordo, como mexer nos direitos do trabalhador e não abro mão nem que a vaca tussa”.
Sim, o fascismo está muito mais próximo da esquerda do que poderíamos imaginar -- e não só dos militares.