27 de abr. de 2013

Antes do pôr do sol

(canvas "Psyche Entering Cupid's Garden", by Willian Water House)
Uma amante jovem frequentemente tem pensamentos contraditórios em sua mente sobre seu parceiro: um, de que ele pode ser “o escolhido” que ela quer ter ao seu lado por toda a vida; dois, de que se isso não funcionar, sempre haverá alguém mais que poderá ocupar esse lugar exclusivo.

Mas é preciso alguma experiência de vida para perceber que há um número limitado e mínimo de pessoas com quem você realmente se “conecta” – com aquela linha que une além de toda timidez e embaraço. Vocês se dão toda liberdade para serem francos, mas respeitando um ao outro acima de tudo. E de uma forma mágica, depois de perdê-lo, você percebe o quanto será difícil substituí-lo -- que montes de detalhes são únicos e essenciais. É difícil explicar, mas ele “te pega” e você a ele.

Daí vem a contradição mais complicada: fantasias não existem, mas aí está ela, em frente à você: é complicado para essa cínica geração X lidar com isso. A geração dos bits e bites foi criada para não acreditar em contos de fadas e pessoas escolhidas, eternas. A coisa madura a fazer é aceitar uma profunda amizade, à despeito da desilusão que a liberdade do outro possa trazer. Isso é a coisa certa a fazer pois neste mundo cínico, o ideal não é real.

Então a vida segue. Relações vem e vão, várias circunstâncias aparecem para interferir, o pragmatismo vence e uma neblina baixa no horizonte. Conforto e rotina afastam a depressão de perceber que quando o dia termina e os dois tiveram a sua diversão simples e doce, então ambos encontram seu próprio canto para dormir.

Isso é ter 30 e tantos anos. A preocupação com a morte ainda não existe, mas o senso de mediocridade sim: é nisso que estou preso? Quando vou escrever um livro, ou fazer aquela pós, ou buscar aquele novo emprego? O que aconteceu? Pois não é o que planejei ...

Apenas umas poucas pessoas têm a sorte de permanecer com aquela alma gêmea: a maioria vagarosamente sufoca em cordas colocadas em seus próprios pescoços. A realidade dói, realmente. Mas tem que servir.