25 de set. de 2011

Máscara

Chega-se a um país estranho, de língua desconhecida. Várias pessoas em volta estão a falar e quanto menos se entende, mais se supõe. Teme-se hostilidade. Fica-se descrente, a salvo, porém um pouco decepcionado quando as palavras estranhas são traduzidas. Quão inofensivas e inocentes! Toda língua desconhecida é uma máscara acústica: tão logo compreendida, ela se torna um rosto interpretável e, em pouco tempo, familiar.

"Eu sou exatamente o que você está vendo", diz a máscara, "e, por trás disso, tudo o que você teme."

11 de set. de 2011

Riso e queda


A risada já foi reprovada como algo vulgar porque quando se ri abre-se bem a boca, desnudando os dentes. É certo que, em sua origem, o riso encerra a alegria pela presa ou comida que parece segura.

Ao cair, o homem lembra o animal ao qual caçava e abatia. Todo o tombo que provoca o riso lembra o desamparo daquele que tombou; se se quisesse poderia tratá-lo como uma presa. Não se haveria de rir se, avançando-se nessa sequência de acontecimentos, efetivamente se incorporasse quem caiu. Ri-se em vez de comê-lo.

É a comida que nos escapa que estimula o riso -- esse súbito sentimento de superioridade, como já afirmou Hobbes. Os animais não riem, e nem tampouco renunciam a qualquer comida que esteja ao seu alcance, se de fato a desejam.